Com uma longa história e uma rica cultura, o distrito resiste aos atravessamentos e violações da mineração predatória. Desde os rompimentos das barragens de Fundão, em Mariana, e Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, a população de Antônio Pereira vive sob o risco de rompimento da Barragem Doutor e dos impactos do seu descomissionamento.
A descoberta de que Antônio Pereira está sobre imensas jazidas de minério de ferro marcou o início de um novo ciclo no distrito, trazendo para o território, várias empresas mineradoras. A primeira a se instalar foi a Samarco Mineração, que ainda nos anos 70 exigiria uma vila inteira para abrigar seus funcionários, face à precária infraestrutura do distrito, insuficiente ante o grande fluxo de trabalhadores da mineração. Ao lado do minério de ferro, inicia-se, também na década de 70, a exploração do topázio imperial. A encosta da montanha que leva à Gruta Nossa Senhora da Conceição da Lapa transforma-se numa grande lavra a céu aberto. A exploração ganha ares de importante fonte econômica, cujo auge situa‐se entre o final dos anos 70 e o início dos 80, quando o contingente de garimpeiros chega a reunir até cinco mil pessoas.
Outras empresas de mineração chegam nos 80, como a antiga Companhia Vale do Rio Doce, atual Vale S.A. Crescem o comércio, a construção civil e o aluguel de imóveis. Ambas mineradoras seguem atuando no território, que sofreu, em 2015, os trágicos efeitos do rompimento da Barragem do Fundão, no vizinho subdistrito marianense de Bento Rodrigues. No próprio Pereira, a vida dos moradores virou pelo avesso desde que a Barragem Doutor, em operação desde 2000, com 75 metros de altura e capacidade para 35 milhões de metros cúbicos de rejeitos, teve seu nível de risco elevado para 2, em 1o de abril de 2020, numa escala que vai só até 3, num desdobramento tétrico do processo iniciado em março de 2019, quando determinação judicial havia interditado, por insegurança, as operações da Barragem Doutor. Estava dada a largada para o tormento agudo da remoção das famílias cujas moradias se situam numa mutante Zona de Autossalvamento (ZAS).
A soma de dois grandes fluxos (o ainda atualíssimo, dos empregados das grandes mineradoras, e o antigo, em busca do topázio) provocou uma intensa explosão demográfica, levando à urbanização acelerada e sem qualquer planejamento. A população flutuante chega a beirar 50% do número de habitantes permanentes, causando rupturas culturais, especulação imobiliária e baixa oferta de emprego e qualificação aos moradores antigos. A prosperidade dos negócios trouxe consigo uma gama de problemas inteiramente novos para o distrito: aumento dos índices de criminalidade e violência, tráfico de drogas, exploração sexual de crianças e adolescentes, gravidez precoce e prostituição, dentre outros.
A mineração de ferro é a maior atividade econômica hoje no distrito, onde se insere o Complexo do Timbopeba, da mineradora Vale, e também parte do Complexo da Samarco, neste caso suas cavas, Unidades de Tratamento de Minérios e administração. Encontramos ainda, em menor escala, a extração de pedra para a construção civil, na Pedreira Santa Efigênia; o garimpo de ouro no Córrego da Água Suja e de topázio imperial na subida da Lapa, todas atividades artesanais, tradicionais, com origens no período colonial.