Instituto Guaicuy

Curso Popular de Educação Ambiental: 2º módulo é realizado pelo Guaicuy

7 de outubro, 2022, por Instituto Guaicuy

Na última quarta-feira (05), foi realizado o 2º módulo do Curso Popular de Educação Ambiental “Qual Plano de Reparação Queremos?”. A formação aplicada no formato virtual contou com a participação de 30 pessoas atingidas, moradoras das regiões 4 (Pompéu e Curvelo) e 5 (Abaeté, Biquinhas, Felixlândia, Martinho Campos, Morada Nova de Minas, Paineiras, São Gonçalo do Abaeté e Três Marias). 

Estruturado em quatro módulos, com duração prevista entre os meses setembro a novembro deste ano, o curso é ofertado pelo Instituto Guaicuy para as comunidades atingidas pelo rompimento da barragem da Vale, ocorrido em janeiro de 2019.

O objetivo é que, a partir da formação, as pessoas atingidas inscritas sejam multiplicadores nos territórios que moram, divulgando informações para que as comunidades consigam acompanhar a execução do Plano de Reparação Socioambiental e, assim, possam refletir, questionar e terem conhecimento acerca de como será executado. O Plano de Reparação Socioambiental para a Bacia do Paraopeba é elaborado pela Arcadis, uma empresa de consultoria ambiental contratada pela Vale.

Ao mesmo tempo, a proposta é de construir diálogos sobre estratégias e instrumentos de monitoramento do Plano a partir dos anseios das comunidades. Ao fim do curso, as sugestões das pessoas atingidas a respeito da reparação socioambiental de suas comunidades farão parte da Carta Manifesto e do Relatório do Produto K, a ser enviado para as Instituições de Justiça – o produto é um relatório sobre as percepções e demandas da população das áreas atingidas no que tange à reparação  do meio ambiente.

2º módulo do Curso Popular de Educação Ambiental

No primeiro módulo, realizado no dia 21 de setembro, a formação discutiu questões sobre o direito ambiental, com abordagem do conceito de educação ambiental e como as pessoas atingidas podem aplicá-lo no dia a dia.

No segundo módulo, realizado no dia 5 de outubro, foram abordados o Plano de Reparação Socioambiental, elaborado pela Arcadis, e como a consultoria compreende a reparação do meio ambiente (incluindo água, solo e ar) e do meio socioeconômico; além de conceitos relacionados à Matriz de Impacto  elaborada pela Arcadis.

2º curso popular de educação ambiental

Sobre as expectativas do curso, Francisco Hélio, morador de São José do Buriti, comenta que trabalha como pescador e periodicamente participa de mutirões de limpeza na beira do rio: “Recolhemos muito lixo depois de finais de semana e feriados, principalmente plástico. Já tentamos conversar com turistas sobre isso, e a minha expectativa com o curso é me informar para conseguir conversar com empresas que vêm plantando eucalipto próximo a nascente, o que vai acabar prejudicando a alimentação do nosso rio”.

No 2º módulo do Curso Popular de Educação Ambiental, os/as participantes foram apresentados a três pontos do Plano Arcadis, em que há a Matriz de Impacto estruturada pela consultoria: os impactos no meio físico (água, solo, sedimento e ar); meio biótico (animais, plantas terrestres e aquáticas); e o meio socioeconômico (economia, qualidade de vida e saúde das pessoas atingidas). 

Com isso, a proposta foi apresentar os levantamentos dos danos coletivos trazidos pela empresa, frente ao que é percebido no cotidiano das pessoas atingidas, para além do listado pela Arcadis como impactos e consequências. Esta é, inclusive, uma das propostas do curso, em que há o estímulo à reflexão e ao senso crítico das pessoas que moram nos territórios atingidos. 

O curso tem como objetivo garantir a discussão crítica sobre questões socioambientais, além de gerar empoderamento coletivo nas comunidades atingidas para que tenham condições de refletir sobre as questões que envolvem a necessária reparação socioambiental. 

Kele Rocha, da equipe de Pesquisas Ambientais, explica que além de todas as consequências diretas do rompimento, esse é um acontecimento que gera muitas incertezas como, por exemplo, como era o meio ambiente antes, uma vez que não existem dados muito aprofundados sobre aspectos socioambientais das localidades impactadas pelo rompimento: “Por isso, perguntas mais específicas são difíceis de serem respondidas e há um desafio de entender o pós-rompimento e como reparar o meio ambiente, se não há uma referência do antes”. 

Diante das incertezas, no Plano da Arcadis, há a apresentação do conceito de gestão adaptativa, com participação da Vale e da Arcadis, do Estado de Minas Gerais, do Ministério Público de Minas Gerais, além de especialistas. Entretanto, durante a formação popular, foi questionada a formação da gestão participativa, em que não há a participação das comunidades atingidas. Isso reforça a importância do Curso Popular de Educação Ambiental ao evidenciar o que as pessoas atingidas têm a dizer sobre a reparação ambiental que querem para as suas comunidades.

Pedro Andrade, da Assessoria jurídica ambiental, endossa o objetivo final da formação: “No módulo 4, o objetivo é produzir uma carta de todos/as os participantes do curso para ser enviada para as IJs. Essa carta irá integrar o relatório sobre o Plano de Reparação Socioambiental, levando as demandas das pessoas atingidas sobre a reparação ambiental das localidades impactadas pelo rompimento da Vale”.

Os próximos módulos do Curso Popular de Educação Ambiental estão previstos para acontecer nos dias 9 de novembro (3º módulo) e 16 de novembro (4º módulo).

O Plano Arcadis 

A Vale assumiu a obrigação de realizar a reparação socioambiental através do Acordo Judicial assinado em 04 de fevereiro de 2021, junto às Instituições de Justiça (Defensoria Pública Federal, Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais e Ministério Público)  e o Estado de Minas Gerais. O anexo que trata da reparação socioambiental é o único que não estabelece um teto de gastos para a mineradora

O Plano de Reparação, que está sendo elaborado pela Arcadis, uma empresa contratada pela Vale, definirá as ações de reparação socioambiental na bacia. Ou seja, quais medidas serão adotadas para a recuperação do meio ambiente, prevê ações como: remoção da lama, acompanhamento da qualidade da água nas regiões atingidas, recuperação das áreas degradadas, assim como reparação das perdas sociais, culturais e econômicas, dentre outras. 

O Plano de Reparação “oficial” da bacia seria, a princípio, elaborado pelo CTC/UFMG (Perito do Juízo), mas, ao mesmo tempo, foi autorizado à Vale elaborar o seu próprio plano (que seria contratado pela empresa Arcadis e, eventualmente, se tornaria o plano oficial da bacia). Entretanto, não houve qualquer consulta ou participação das comunidades e/ou das ATIs na elaboração do Plano.

Gostou do conteúdo? Compartilhe nas redes sociais!

O que você achou deste conteúdo?

O seu endereço de e-mail não será publicado. Todos os campos são obrigatórios.

Ao comentar você concorda com os termos de uso do site.

Assine nossa newsletter

Quer receber os destaques da atuação do Guaicuy em primeira mão? Assine nosso boletim geral!