Reportagem: Projeto Manuelzão
Entre os dias 2 e 4 de março, milhares de peixes mortos foram recolhidos na Lagoa da Pampulha. Informações divulgadas na imprensa davam conta de 5 a 7 mil espécimes. Os peixes foram retirados pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), que atribuiu a culpa pela mortandade a um vazamento de esgoto. A Copasa, por sua vez, informou que, após realizar análises, não encontrou qualquer anomalia.
Após parecer técnico da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA), na última terça-feira, 19, a Prefeitura aplicou uma multa de R$27 mil à Copasa. Em resposta ao G1, a Companhia afirmou que recorrerá da decisão. O Projeto Manuelzão tentou contato, sem sucesso, com a Prefeitura, e solicitou o parecer da SMMA via Lei de Acesso à Informação; o prazo para resposta é de 20 dias.
Para Carlos Bernardo Mascarenhas Alves, biólogo do Núcleo Transdisciplinar e Transinstitucional pela Revitalização da Bacia do Rio das Velhas do Projeto Manuelzão, sem um programa de monitoramento eficiente da qualidade da água, para além das medições de rotina feitas pela Copasa, é muito difícil estabelecer a causa da mortandade.
“O oxigênio dissolvido na água, por exemplo, pode abaixar a níveis deletérios para os peixes com uma chuva, com o revolvimento do fundo dos afluentes. Variações das temperaturas nos dias que antecedem o evento também influem, pois pode acontecer o fenômeno da inversão térmica, quando o sedimento sem oxigênio do fundo é liberado e vem à tona. Então são várias frentes possíveis, mas sem a informação adequada é impossível você saber ao certo, até porque, geralmente, quando você chega, o problema já passou”, pontua o biólogo, que há mais de duas décadas trabalha com o biomonitoramento de peixes.
Na semana que antecedeu a mortandade na Pampulha, não foram registradas chuvas e as temperaturas máximas chegaram na casa dos 33º C. Nas imagens é possível perceber que muitos dos espécimes eram de carpas e tilápias, espécies exóticas na Bacia do Velhas.
Há não muito tempo, em novembro do ano passado, cerca de mil peixes foram encontrados mortos, na Pampulha,o que foi atribuído ao aumento atípico da temperatura da água. Para Alves, não faltam indícios de que tanto a ictiofauna quanto a qualidade da água estão em más condições.
Atualmente a Copasa desenvolve, junto às prefeituras de BH e de Contagem, o programa Reviva Pampulha, iniciado em agosto de 2023. De acordo com a Companhia, 3.200 imóveis nas duas cidades foram atendidos por obras de saneamento até janeiro deste ano. Os imóveis contabilizam 30% do total de intervenções previstas pela Copasa e pelas prefeituras, que esperam que, até o final do primeiro semestre de 2026, cerca de 9.800 propriedades parem de despejar resíduos ilegalmente na bacia.
A Prefeitura de Belo Horizonte, por meio de sua Assessoria de Imprensa, não disponibilizou o parecer feito pelos técnicos da Secretaria de Meio Ambiente que permitiram uma visão detalhada do ocorrido, como mais informações sobre o suposto vazamento de esgoto e o número de peixes mortos. O Projeto Manuelzão solicitou o parecer por meio da Lei de Acesso à Informação, e o prazo para resposta é de 20 dias. O espaço segue aberto para manifestação da Prefeitura.
Procurada pelo Projeto Manuelzão, a Copasa afirmou em nota que: “após rigorosas vistorias e análises realizadas no sistema de esgotamento sanitário na bacia hidrográfica da Pampulha desde o fim de semana, não foram identificadas irregularidades ou problemas significativos que pudessem estar relacionados à recente mortandade de peixes na lagoa.”
Ao G1, informou que recorrerá da multa aplicada pela PBH.
Foto: Amanda de Oliveira
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