Instituto Guaicuy

Guaicuy realiza 5º Fórum Regional das Pessoas e Comunidades Atingidas da região 4

30 de setembro, 2022, por Christiano Amaral

Na última terça-feira (27), o Instituto Guaicuy realizou o 5º Fórum Regional das Pessoas e Comunidades Atingidas da região 4 (Pompéu e Curvelo). O objetivo do encontro foi dialogar com as comunidades sobre os resultados das análises de peixes.

Organizado pelas coordenações de Pesquisas Ambientais e de Extensão Técnica do Guaicuy, o encontro, realizado de forma virtual, contou com a presença de mais de 70 pessoas atingidas, e teve como objetivo apresentar os resultados das análises de peixes realizados a partir da coleta de espécies no rio Paraopeba, no trecho entre Pompéu e Curvelo, até a barragem de Retiro Baixo .

A insegurança em relação ao consumo dos peixes nas comunidades atingidas, fruto da convivência com as consequências do rompimento da barragem da Vale, ocorrido em janeiro de 2019, se tornou cotidiano em comunidades da bacia do Paraopeba, do entorno da represa de Três Marias e em comunidades do São Francisco localizadas em Três Maria e São Gonçalo do Abaeté.

Sentimentos de medo, insegurança e desconfiança em relação ao consumo seguro colocam em risco, também, a renda de pescadoras e pescadores ao longo da bacia. Diante desse cenário, o Instituto realizou, durante os meses de março de 2021 a maio de 2022, as análises ao longo do rio Paraopeba (nas comunidades que fazem parte dos municípios de  Pompéu e Curvelo) e na represa de Retiro Baixo. Os pontos de coleta foram selecionados de acordo com análises técnicas feitas pelo Guaicuy e, também, a partir do apoio das pessoas atingidas que indicaram os locais que também tinham necessidade de análises. 

Veja os resultados das análises de peixes no 5º Fórum da região 4

Os estudos foram realizados por laboratórios selecionados pelo Instituto Guaicuy, certificados pelo INMETRO, e que não têm vínculos com a mineradora Vale, foram eles: a Ictiológica Consultoria Ambiental, responsável pela coleta e preparação de material para envio ao laboratório; e a Tommasi Analitica LTDA, que foi o laboratório responsável pelas análises. 

Bernardo Beirão, coordenador de Pesquisas Ambientais do Guaicuy, ressaltou que as pessoas atingidas, nos momentos de acolhimento do Guaicuy, sempre comentaram sobre a necessidade de serem desenvolvidos estudos relacionados aos impactos do rompimento na saúde dos animais, principalmente os peixes. Em setembro de 2020, o Instituto assinou os primeiros contratos para início de análise de poços e cisternas. “A possibilidade de realizar as análises é uma vitória das pessoas atingidas, já que os impactos do rompimento são sempre questionados. Por isso, é uma conquista conseguirmos realizar esses estudos e trazer os resultados para vocês”, reforça. 

Foram estudados pontos espalhados ao longo do rio Paraopeba (nos municípios de Curvelo e Pompéu), e na represa de Retiro Baixo. Para as coletas, o Guaicuy utilizou métodos diversificados como rede de pesca e tarrafas, o que ampliou os tipos de espécies e que aumenta a  possibilidade de um estudo mais aprofundado. 

Na região 4, foram coletadas 396 amostras, sendo 228 do filé do peixe e 168 de fígado, e foram analisados os elementos químicos: alumínio, arsênio, bário, cádmio, chumbo, cobre, cromo, ferro, manganês, mercúrio, níquel, selênio e zinco. Desses elementos, a pesquisa destaca que o alumínio, ferro e manganês, são considerados metais essenciais para nossa sobrevivência, mas que em doses altas em um organismo podem ter comportamento tóxico. Além disso, esses três também estão presentes na composição dos rejeitos, o que pode indicar uma relação com o rompimento da barragem da Vale.

A legislação só estabelece limites para arsênio, cádmio, chumbo e mercúrio, dessa maneira, foram consideradas alterações apenas a presença desses quatro elementos, quando acima do permitido. Na análise de fígado, a cada 10 órgãos analisados, 9 apresentaram algum elemento acima dos limites da legislação. Na análise dos filés, a cada 10 peixes, 3 apresentavam algum elemento acima dos limites permitidos pela legislação. 

Diante das alterações identificadas, Beirão explicou que há a possibilidade de uma presença recente desses elementos nos peixes, já afetando o fígado e não tanto o filé desses animais. Além disso, “é fato que o rompimento da barragem disponibilizou uma grande quantidade de materiais e elementos que podem estar causando ou aumentando impactos no meio ambiente nos animais.”, explica.

Análises de peixes: ações do Guaicuy para apoiar as pessoas atingidas 

O Guaicuy não pode estimar o risco dos resultados das análises de peixes para a saúde humana, uma vez que é essencial a realização de uma série de estudos mais aprofundados, olhando também para a característica das comunidades (percentual de crianças, idosos, pessoas com problemas de saúde, por exemplo), e a exposição (a frequência e o tipo de contato com os peixes). 

Para apoiar as comunidades atingidas, em agosto de 2022, o Guaicuy se reuniu com representantes das IJs, do Comitê Pró-Brumadinho e do Estado de Minas Gerais, informando sobre os resultados das análises ambientais. Também enviou recomendações aos órgãos públicos, são elas: 

  • Solicitação que se ateste e oriente a população sobre a segurança para o consumo dos peixes; 
  • Pela responsabilização e tomada de decisão dos órgãos e instituições públicas; 
  • Desenvolvimento de políticas públicas específicas para atendimento aos pescadores da região; 
  • Acolhimento de demandas de saúde. 

5º Fórum da região 4: dúvidas das pessoas atingidas 

Depois das explicações dos resultados das análises dos peixes, as pessoas atingidas puderam fazer perguntas e expor suas preocupações. Algumas são:

Pessoa atingida: Como fica a situação das pessoas que não tem outra condição de se alimentar com outra coisa a não ser o peixe? 

Guaicuy: O peixe é uma fonte de proteína importantíssima para muitas pessoas dos territórios atingidos. Não podemos afirmar se é permitido ou não o consumo, entretanto, existe na região 4 uma determinação do Estado de Minas Gerais de que não se pode consumir os peixes, um indicativo que temos é o de  tentar seguir essa recomendação. 

Pessoa atingida: As análises de forma independente terão algum peso dentro do processo judicial, ou teremos que ficar somente com os resultados das análises das empresas contratadas pela Vale? 

Guaicuy: É importante confiar nos resultados das pesquisas do Guaicuy. Os resultados foram feitos de forma séria, com atenção técnica, e por isso, devem ser utilizados como instrumento de luta do processo judicial. 

Pessoa atingida: O peixe é migratório, por isso, queria saber como é a divisão dos trechos para delimitar onde é possível consumir e onde não está indicado?

Guaicuy: Em relação a região 4, realmente os peixes se movimentam, como o surubim que faz movimentações mais longas. É importante salientar que a barragem de Retiro Baixo se comporta como uma barreira física que impede a transposição de ‘baixo para cima’ dos peixes. Entretanto, de ‘cima pra baixo’ pode acontecer algumas passagens, por vertedouros e turbinas, por exemplo. De qualquer maneira, o que é utilizado pelos órgãos que definem os locais de consumo é a barreira física da barragem de Retiro Baixo. 

Assista ao vídeo completo do 5º Fórum Regional das Pessoas e Comunidades Atingidas da região 4.

https://youtu.be/dUm5Cvl3zdM

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