“Aqui é um lugar lindo, maravilhoso,
mas você olha assim e enxerga morte”
Quésia, Geraldo, Vera, Sérgio, Rosana, Luiz, Gaminha e Alcilene são moradores de uma região chamada Diamantes, localizada na área rural de Pompéu. Eles e elas vivem na beira da represa de Três Marias, da cadeia do pescado, e dão voz ao mais novo documentário lançado pelo Instituto Guaicuy. “Diamantes: comunidades atingidas pela Vale buscam reparação” conta um pouco da história do território formado pelas comunidades de São Marcos, Santa Cecília e Balneário Reino dos Lagos, que hoje vivencia os danos causados pelo rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, mesmo a mais de duzentos quilômetros de distância de onde aconteceu o desastre-crime.
O documentário mostra como o rejeito tóxico despejado pela Vale no Rio Paraopeba chegou longe, atingindo pelo menos 26 municípios ao longo da bacia. A região de Diamantes é uma extensa área envolvida pelas águas da represa de Três Marias, onde o Rio Paraopeba deságua e termina, depois de percorrer mais de 12 mil quilômetros dentro de Minas Gerais.
A proximidade com as águas fez com que quem vivesse ao redor fizesse delas não só ponto de encontro para o lazer, mas também o sustento de gerações de famílias que habitavam e habitam Diamantes. “A nossa relação com a água sempre foi muito boa, né? Ela é nossa vida, dela a gente tira nosso sustento, o nosso lazer. Depois do desastre-crime da Vale, começou o nosso inferno em vida. Porque, desde então, vêm aparecendo doenças, os peixes sumiram, estão muito raros os peixes, a gente já não consegue mais tirar o nosso sustento da água”, conta Quésia Martins, moradora de Santa Cecília.
Com o rompimento da barragem, a insegurança sobre a qualidade da água surgiu, causando muita dor ao redor, não só para quem depende da pesca para viver, mas também para quem viu seus modos de vida afetados pelo impedimento de uma relação saudável com as águas. Para Diogo Coelho, supervisor territorial do Instituto Guaicuy que acompanha as comunidades de Diamantes, o despejo dos rejeitos tóxicos no Rio Paraopeba segue trazendo consequências dolorosas para os moradores. “Levou à vulnerabilidade social. Muita gente precisou se mudar para procurar outros trabalhos, pois a pesca já não sustentava mais as pessoas. Houve desvalorização de casas e terrenos que eram patrimônios das famílias, além de impactos no turismo local e no lazer de pessoas que frequentemente visitavam essas localidades para diversão e contato com a natureza. Além disso, o rompimento gerou também vários danos à saúde mental dos moradores, potencializados pela queda na venda dos peixes”, comenta o profissional da Assessoria Técnica Independente.
PTR
De acordo com o supervisor, as comunidades que integram Diamantes ainda vivenciam desafios com o cadastro no Programa de Transferência de Renda (PTR) pela falta da documentação exigida para realizar o cadastro. “Isso se deve à falta de regulação fundiária nessas localidades ou à ausência de prestação de serviços básicos, como a água potável e energia elétrica”, explica Diogo.
O PTR é um valor pago mensalmente às pessoas atingidas ou prejudicadas pelo rompimento da barragem da Vale. Ele foi previsto no acordo feito entre as Instituições de Justiça, Estado de Minas Gerais e Vale. O objetivo é garantir condições materiais para as populações que vivem nas comunidades delimitadas como atingidas, enquanto aguardam pela reparação integral.
Sobre o Instituto Guaicuy
Criado no ano 2000 por pesquisadores, professores e ativistas sociais que atuavam no projeto Manuelzão (UFMG), o Instituto Guaicuy é uma entidade não governamental associativa, cultural e técnico-científica sem fins lucrativos. Seu trabalho é desenvolver ações socioambientais, culturais e educativas voltadas para a preservação e recuperação ambiental, à promoção da saúde e à cidadania. Atualmente o Guaicuy conduz o Água Limpa Para Todos, focado na educação ambiental como forma de preservação de nascentes em um bairro de Itabirito, além de dois projetos de Assessorias Técnicas Independentes (ATI). Na bacia do Paraopeba, o Instituto acompanha o processo de reparação das regiões 4 (Curvelo e Pompeu) e 5 (região do Lago de Três Marias), afetadas pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho. Já em Antônio Pereira, distrito de Ouro Preto, o Instituto presta assessoria técnica para a comunidade que convive nos últimos anos com o risco de rompimento da barragem de Doutor, também pertencente à Vale.
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