15 de agosto é o dia da padroeira do distrito de Antônio Pereira, que recebeu centenas de fiéis na Gruta da Lapa
O distrito de Antônio Pereira, em Ouro Preto/MG, é uma comunidade de tradições tricentenárias. Uma delas é a festa da padroeira Nossa Senhora da Conceição da Lapa, celebrada de 01 a 15 de agosto. Este ano, o evento religioso reuniu centenas de fiéis na Gruta da Lapa, na quinta-feira (15/08), incluindo os devotos que fizeram parte da 3º Caminhada de Fé das Garimpeiras e Garimpeiros Tradicionais de Antônio Pereira.
A caminhada teve início às 12h30, com concentração na Igreja das Mercês, e seguiu pela Rua da Lapa até a gruta de Nossa Senhora. Com balões, faixas, cartazes e embalados por músicas que falavam sobre fé, a comunidade garimpeira levou para as ruas do Pereira a mensagem de luta por direitos e danos causados pela mineração no distrito.
A peregrinação dos garimpeiros contou com o apoio e participação de movimentos sociais, da Frente Mineira de Luta das Atingidas e dos Atingidos pela Mineração (FLAMA-MG), de grupos organizados politicamente, de estudantes do curso de comunicação da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e da equipe do Guaicuy na Assessoria Técnica Independente (ATI) de Antônio Pereira, que atua junto à comunidade na busca por reparação integral diante dos danos causados pelas obras de descaracterização da Barragem Doutor.
Após a caminhada, os fiéis foram recebidos pelo Padre Marcelo Santiago, na Gruta da Lapa. O momento de chegada e acolhimento dos garimpeiros foi de agradecimento e falas em defesa de direitos. “Nós somos todos atingidos e estamos lutando por nossos direitos, que estão sendo violados. Agradecemos, primeiramente, a Deus e a Virgem Maria por dar a nós força, saúde, coragem, animação, paciência, inteligência e sabedoria para continuar firme na luta, lutando pelos nossos direitos, que não são poucos!”, diz Ivone Pereira, garimpeira tradicional do distrito e integrante da Comissão de Pessoas Atingidas.
A devoção à Nossa Senhora da Lapa é uma tradição que reúne gerações. Um exemplo dessa fé que promete ser levada adiante foi a apresentação encenada por jovens da comunidade para acompanhar a caminhada dos garimpeiros. Amanda Ferreira Pires, moradora de Antônio Pereira, falou sobre o que sentiu e a responsabilidade de fazer o papel da santa durante o trajeto e nas apresentações de início e encerramento da romaria. “É a primeira vez que me visto como Nossa Senhora e fiquei muito emocionada. Um sentimento que não sei explicar.”
O Instituto Guaicuy está no território de Antônio Pereira atuando como ATI no caso da Barragem Doutor e, no trabalho junto à comunidade, pode observar os efeitos e danos provocados pela mineração no distrito, danos esses denunciados pelos próprios moradores. Durante a caminhada, Ronald Guerra, vice-presidente do Guaicuy e coordenador-geral da ATI, falou à imprensa sobre o crescimento da atividade minerária na região, inclusive com a chegada de novas empresas que põem em risco o Santuário de Nossa Senhora da Lapa, pois há propostas que esses empreendimentos sejam instalados na serra ao lado gruta.
“Eu vi a mineração crescendo aqui em Antônio Pereira. Antigamente, a mineração cresceu trazendo um pouco mais de recursos, porque o lugar era pequeno e eles precisavam ter infraestrutura para abrigar seus funcionários, mas essa mineração foi trazendo também todos os danos relativos à sua expansão. E hoje, é um distrito que tem pessoas de todos os lugares, tem impactos que não foram controlados, impactos sociais. E tem os piores índices que a gente pode pensar num distrito que é terra de vários povos, onde tem prostituição em uma escala elevada, índices de segurança baixos, ocorrências graves, tem índices baixos de educação. Então, historicamente, o distrito foi ficando geograficamente deixado de lado.”
Aparição de Nossa Senhora da Lapa deu início à tradição
Há 300 anos, quase no mesmo período de fundação de Antônio Pereira, crianças tiveram visões de Nossa Senhora, em sua face de devoção de Conceição da Lapa, em uma gruta, situada no alto do distrito. A partir das aparições, começou a história de peregrinação e devoção à Nossa Senhora da Lapa, que se mantém viva até hoje. Devido à grande quantidade de fiéis que visitam a gruta todos os anos, a igreja católica realiza na primeira quinzena de agosto o Jubileu em homenagem à santa, que já está na 24º edição.
A festa da igreja recebe visitantes de vários lugares, a maioria de Minas Gerais. Muitos dos devotos frequentam o lugar sagrado há muitos anos, como é o caso do casal Ana Antônia da Silva Carlos e José Anselmo Carlos, de Santa Bárbara. “A gente organiza caravanas para visitar Nossa Senhora da Lapa já faz uns 25 anos. O que a gente tem a dizer é que muitas graças são derramadas sobre quem vem aqui. Esse lugar é sagrado. A gente trabalha mais de mês pra trazer as pessoas na romaria. Este ano, trouxemos 46 pessoas e nosso auxiliar está com mais 44.”
Por Mariana Viana
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