Um baú no quarto de Joala guarda um de seus principais tesouros. São mais de cem vestidos de cores vibrantes, bordados de miçangas, brilhos, rendas e pedrarias. Na casa ao lado, Dara também tem em seu armário um monte dessas relíquias, usadas nas festas de seu povo, famosas por durarem mais de três dias. As vestimentas incrementadas e coloridas são marca registrada dos ciganos Calon. Nessa onda, elas fazem questão de caprichar no estilo, na maquiagem e no perfume, para celebrar as mais diversas datas, seja o batizado de alguma criança da comunidade, uma festa de aniversário ou um casamento. “A gente gosta de cor e festa, e espalhamos isso pelo mundo”, exalta Dara.
Dara e Joala fazem parte de uma pequena comunidade cigana que vive em Beira Rio, distrito de São Gonçalo de Abaeté, nas margens do Rio São Francisco. Desde 2007, cerca de 40 ciganos da etnia Calon habitam a região, divididos em sete casas, e lá se dedicam à pesca, ao turismo e às atividades domésticas, principalmente. Como muita
gente da região, eles lutam pelo direito à reparação dos danos causados pela Vale, com o rompimento da barragem em Brumadinho. “A gente vê o rio mudado e tenta entender como vamos refazer nossas vidas, que antes
giravam em torno dele”, conta Dara, enquanto olha para o Velho Chico, que flui quase em seu quintal.
Os costumes da cultura cigana prevalecem em meio a uma série de preconceitos e dificuldades, mas são vividos com orgulho pela comunidade Calon. Entre as famílias, é comum ouvir uma língua própria, o chibi, que, inclusive, não pode ser ensinada para quem não seja cigano. “É uma forma da gente se comunicar só entre nós, em uma conversa secreta”, revela Dara. O cabelo das mulheres também tem um valor especial para a cultura. Cultivados longos e lisos, elas só cortam quando alcançam uma graça, após promessas e orações. “Consegui alcançar um milagre e por isso
cortei o meu da última vez”, conta ela, após afirmar crer na religião católica, como as demais famílias ciganas de Beira Rio.
Por entre as cores, os vestidos rodados, as músicas e os festejos ciganos, existe muita história, riqueza e vontade de lutar por uma vida melhor. “A gente é visto, muitas vezes, de uma forma errada, mas somos gente como qualquer outra gente, merecemos respeito e temos muito a ensinar”, complementa Joala, enquanto guarda as saias em seu baú e organiza os produtos de maquiagem na penteadeira.
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