Esta é a segunda edição de uma série de oito boletins elaborados pela equipe de Saúde e Assistência Social (SAS) do Guaicuy com informações sobre saúde para as pessoas atingidas. Entenda neste boletim informativo as alterações na saúde mental que surgiram ou foram agravadas após o rompimento da barragem da Vale.
Diante da seriedade dos impactos causados pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, a equipe de Saúde e Assistência Social (SAS) do Instituto Guaicuy elaborou uma série de boletins informativos que têm como ponto central a saúde das pessoas atingidas.
Com informações a respeito das alterações na saúde que podem acontecer a partir do contato com metais pesados e materiais tóxicos, ou devido a situações de vida profundamente impactadas pelas consequências do rompimento, como a perda de renda e alterações nos modos de vida, o Guaicuy busca fortalecer os espaços de participação ativa e informada das regiões assessoradas: região 4 (Pompéu e Curvelo) e 5 (entorno da represa de Três Marias e comunidades do São Francisco localizadas nos municípios de Três Marias e São Gonçalo do Abaeté).
Este é, portanto, o segundo boletim lançado pela equipe de Saúde e Assistência Social, e aborda a saúde mental das pessoas atingidas: o bem-estar da população, os impactos do rompimento na rotina e dinâmicas de vida, os sentimentos e sensações surgidos ou aflorados após o rompimento, como tristeza, ansiedade, medo, irritabilidade e/ou insegurança quanto ao futuro.
Cintya Alvim, da equipe de Saúde e Assistência Social do Instituto Guaicuy, destaca que a saúde mental é um ponto fundamental para a qualidade de vida: “Para se garantir cuidado, atenção e dedicação às ações de autocuidado e no cuidado com os demais, precisamos dar lugar, escuta e tratamento a esse tema. É preciso ampliar a discussão sobre a saúde mental das pessoas atingidas nesse contexto de desastre. O acolhimento psicossocial é ofertado pela equipe da SAS nas regiões 4 e 5 como espaço de escuta qualificada. Trabalhamos o acolhimento aos sofrimentos das pessoas atingidas e buscamos dar lugar e visibilidade às questões singulares, considerando cada história com seus atravessamentos.”
O 2º boletim informativo aborda a saúde mental e explica explica a sua importância, a origem dos transtornos mentais, o que o Guaicuy levantou até o momento junto às pessoas atingidas sobre alterações na saúde mental e suas relações com o rompimento da barragem da Vale, que ocorreu em janeiro de 2019. O material também explica o que a pessoa atingida pode fazer caso identifique sinais de alterações na saúde mental, ou mesmo em momentos de crise, e o papel do Acolhimento Psicossocial da Coordenação de Saúde e Assistência Social do Instituto Guaicuy.
A importância de momentos e ações específicas dedicados ao tema, como o Setembro Amarelo, é o destaque de Hermano Santos, da Coordenação da SAS, na construção de diálogos que combatam o estigma acerca dos cuidados com a saúde mental: “Em nossa atuação no território atingido, percebemos o quanto que os sentimentos de medo, angústia, desânimo e insegurança, por exemplo, passaram a fazer parte da vida das pessoas. Nesse sentido, é essencial seguirmos com nossas ações, e de forma bem específica, com os acolhimentos psicossociais. Entendemos que contribui para o cotidiano dessas pessoas, para que se fortaleçam e sigam firmes na busca por seus direitos e reconhecimentos, e que a permanência nessa luta seja da forma mais saudável possível.”
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a saúde mental refere-se a um bem-estar no qual o indivíduo desenvolve suas habilidades pessoais, consegue lidar com os estresses da vida, trabalha de forma produtiva e encontra-se apto a dar sua contribuição para a comunidade.
Nos momentos de acolhimento e durante as pesquisas em Saúde, construídos pelo Guaicuy, as pessoas atingidas relatam que após o rompimento da barragem surgiram sentimentos e sensações como tristeza, insônia, choro frequente, ansiedade, medo, irritabilidade, raiva, insegurança quanto ao futuro, crises de ansiedade, perda de projetos de vida e fragilização de laços familiares e comunitários e aumento de uso de medicação psicotrópica, além do aumento no uso de álcool.
Essas alterações, se persistirem, podem levar a um quadro de sofrimento psíquico que vai se agravando ao longo do tempo, caso não seja tratado. Nas comunidades de Pompéu e Curvelo, 50,4% das pessoas entrevistadas se enquadram na categoria de severamente afetado, com chances substanciais de apresentar ou desenvolver sintomas psicopatológicos relacionados ao estresse; na Região 5, esse percentual é de 32,6%.
Confira aqui o boletim nº 2 (sobre alterações na saúde mental) na íntegra!
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