Adelson Henrique Vargas, ou Delsinho, como é conhecido pela comunidade de Morada Nova de Minas, conta que foi iniciado na Umbanda no ano 2000, na Casa de Caridade Maria Baiana. Lá trabalhou por 21 anos com sua mãe de santo, Dona Nice, até receber o chamado para abrir a Tenda Rei Congo. O novo espaço foi inaugurado em maio de 2021, debaixo da mangueira no quintal de onde morava.
Cerca de um ano depois, a sede da Tenda Rei Congo foi construída na Rua Frei Orlando, no centro da cidade, onde hoje congrega cerca de 35 filhos e filhas do Pai Adelson. Ele conta que, no princípio, teve um pouco de trabalho. “A casa fica a dois quarteirões da Igreja Matriz, então algumas pessoas, mais idosas, foram contrárias, pois achavam que os terreiros deviam ficar nas bordas, na periferia das cidades. Algumas pessoas passam olhando, quando veem a gente vestido de branco, com as nossas guias. Mas eu tenho muita amizade com o pessoal católico e evangélico. Graças a Deus, não sofremos intolerância religiosa aqui”, afirma.
Além do aumento das doenças “psicológicas e espirituais” na comunidade, Adelson relata que o desastre-crime da Vale também debilita práticas da sua fé, já que as religiões de matriz africana utilizam e têm fé na energia dos elementos. “Como oferecer uma planta, uma raiz, a alguém, sem saber e aquilo vai fazer bem para a pessoa? Nos preocupa não ter uma água limpa, uma terra limpa para utilizar nos rituais”, comenta Delsinho.
As comunidades da Tenda Umbandista Rei Congo, da Casa de Caridade Maria Baiana e da Casa da Mãe Alessandra se uniram recentemente na Comissão Guiados Pelo Axé, que participa de maneira organizada dos espaços de debate sobre a reparação. Um dos desejos do grupo é um espaço na cidade para o cultivo de ervas sagradas e medicinais, que seja também um lugar de paz, oração e conexão com a natureza – um santuário. “O santuário não seria da Tenda ou das outras casas, mas da população toda”, diz Adelson.
Sobre o processo de reparação, Pai Adelson reflete: “sem a natureza, nós humanos não existimos, nem os orixás. Não tem como voltar atrás, mas com a reparação, quem sabe, podemos ter um recomeço e, talvez, as coisas normalizarem entre homem e natureza. É um trabalho de formiguinha, mas com muita esperança”, conclui.
Reportagem publicada no Piracema – 12ª Edição
Foto: Gia Dias/ Instituto Guaicuy
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