Instituto Guaicuy

Comissões de pessoas atingidas de Curvelo e Pompéu realizam 2º Encontro Regional

21 de novembro, 2023, por Laura de Las Casas

Membros de 8 Comissões e representantes do Povo Indígena Kaxixó e do Quilombo Saco Barreiro estiveram presentes em um dia de troca de experiências, planejamento e reivindicações entre lideranças atingidas pela Vale 

Um dia de conversas, discussões, compartilhamento de ideias, organização política, troca de experiências e muitos abraços. Assim foi o  2º Encontro de Comissões da Região 4 (municípios de Pompéu e Curvelo) dos territórios atingidos pela Vale com o rompimento da barragem de Brumadinho, em 2019. Quase 60 pessoas estiveram presentes, representando 8 Comissões de pessoas atingidas.

“Foi uma chance de olhar para os lados, conhecer as necessidades diferentes de quem foi prejudicado por um mesmo crime, e pensar nas formas de fortalecer nossa união em busca de um caminho conjunto em comum. Esse tipo de reunião nos ajuda a organizar os próximos passos e também nos ajuda a aquecer o coração, porque lembramos que não estamos sozinhas, nos sentimos mais fortes para seguir em frente”, avalia Joelma Aparecida, moradora do Recanto do Funil, comunidade de Pompéu. 

As Comissões são formadas por pessoas atingidas com o objetivo de garantir a participação ativa e o controle social no processo de reparação. Sua composição deve garantir a diversidade de grupos dos territórios que foram prejudicados pelo desastre-crime da Vale. Além disso, os grupos buscam   igualdade de participação entre homens e mulheres e inclusão de minorias sociais, tais como pessoas negras, mulheres, juventudes, indígenas, pessoas LGBTQIA+, entre outras. 

Como explica João Martins, coordenador regional do Guaicuy em Curvelo e Pompéu, o encontro é a parte final de uma série de atividades promovidas com as Comissões pelo Instituto Guaicuy enquanto Assessoria Técnica Independente (ATI). “Estas ações que desenvolvemos ao longo do último semestre buscam construir junto às comunidades alternativas para o controle social dos Anexos do Acordo de Reparação, assinado em fevereiro de 2021, principalmente o Anexo 1.1”, explica. O Anexo 1.1  trata de projetos de demandas das comunidades e de linhas de crédito e microcrédito para pessoas atingidas, destinando R$3 bilhões para esse fim, e foi um dos temas centrais do encontro realizado no sábado.

Programação do 2º Encontro Regional de Comissões de pessoas atingidas

Ao som de uma versão adaptada da música “Além do Horizonte”, de Roberto Carlos, os representantes e as representantes das Comissões foram recebidos em uma grande roda, um momento de troca de olhares e sorrisos de quem se reconhece na mesma luta. Logo depois, a programação do dia foi apresentada aos participantes, e deu-se início à primeira atividade. Nesse momento, as pessoas presentes foram divididas em grupos para discutir os principais avanços das Comissões até o momento, quais são os princípios seguidos por elas, as formas de organização e os avanços desejados para os próximos tempos e também quais são anseios e as formas de organização das pessoas atingidas em relação à Instância Regional, do Sistema de Participação.

Logo depois, cada grupo apresentou o resultado dos debates para os demais, possibilitando a troca de ideias e experiências entre todas as pessoas presentes. A equipe do Guaicuy ajudou a orientar a construção de entendimentos comuns sobre as propostas de atuação e responsabilidades da Instância Regional no Sistema de Participação das pessoas atingidas. 

Antes do intervalo para o almoço, as Guerreir@as, um grupo auto-organizado de pessoas atingidas pelo desastre-crime da Vale das regiões 4 e 5, fez uma apresentação sobre a atuação do coletivo em busca de justiça para as pessoas prejudicadas pelo rompimento da barragem.

O momento contou também com a  participação de Alexandra de Menezes, de 13 anos, que leu uma carta escrita por sua mãe, Tatiane de Menezes, integrante do coletivo,  direcionada ao povo atingido. Na carta, Tatiane reconhecia o esforço das pessoas que se envolvem com a luta pela reparação justa e valorizava cada conquista alcançada durante os quase cinco anos de caminhada. 

Período da tarde

Depois do almoço, houve a apresentação da segunda dinâmica e a divisão em novos grupos. Dessa vez, o tema central foi o Anexo 1.1. Houve a proposta de construção de um Plano de Ação para sua execução de forma a garantir a participação das pessoas atingidas em seu processo. Cada grupo ficou responsável por discutir um ponto específico. 

  • O primeiro simulou uma conversa com a Cáritas, entidade responsável por gerir parte dos recursos do Anexo 1.1, discutindo sobre a elaboração de critérios e princípios para sua execução. 
  • O segundo levantou as potencialidades locais e regionais, relacionando aos principais danos sofridos nos territórios para dar embasamento na elaboração dos projetos. 
  • O terceiro ficou responsável por relembrar quais são os atores presentes no território (em especial, os que atuam no Anexo 1.1 do Acordo), hierarquizar o nível de diálogo desses atores com as pessoas atingidas e indicar o nível de confiança que as pessoas atingidas têm em relação a eles. 
  • O quarto grupo teve como meta construir coletivamente uma proposta de planejamento regional no âmbito do Anexo 1.1. 
  • O quinto trabalhou os critérios e as potencialidades dos Povos e Comunidades Tradicionais (PCTs) para dar embasamento para elaboração dos projetos direcionados a estes grupos. Também foi um espaço de troca de experiências sobre projetos e potencialidades entre as lideranças dos PCTs das duas regiões.
  • Já o sexto teve como tarefa elaborar uma carta com as reivindicações das pessoas atingidas, que foi apresentada em plenária para aprovação de todas as comissões presentes. 

Em seguida, foi hora de compartilhar os resultados das trocas entre cada grupo, organizando as possibilidades de participação das pessoas atingidas em cada etapa de execução do Anexo 1.1. “Pra gente, do povo [indígena] Kaxixó, foi muito importante trocar experiência com o pessoal de [comunidade quilombola] Saco Barreiro. Somos Povos e Comunidades Tradicionais e temos particularidades que devem ser respeitadas em todas as fases do Acordo. Espero que essa seja a primeira de muitas oportunidades ”, disse Nilvando Moreira, cacique do Povo Indígena Kaxixó. 

Ao final, houve a leitura da carta escrita por um dos grupos, com as principais reivindicações relativas à execução do Anexo 1.1. Antes de ir embora, Claudio Antônio Ferreira, professor aposentado e morador de Balneário Reino dos Lagos, reafirmou a potência do encontro no sentido de unir as forças para enfrentar o processo de reparação dos danos causados pela Vale.

“Olhar nos olhos de quem também está vivendo coisa parecida e, às vezes, poder reconhecer situações que a gente nem sabia que existia, pra poder pensar junto em soluções que sejam justas para todo mundo. Muitas vezes, as pessoas acham que as consequências do rompimento são iguais para todas as comunidades, mas cada uma vive sua realidade, e todas precisam resgatar de volta a vida que tinham antes disso tudo acontecer. Isso é justiça e esperança”, disse.  

 

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Comentários

  • Maria Rosa Barbosa Silva disse:

    Bom dia gostei muito foi muito produtivo o carinho das pessoas com agente muita atenção com nós amei que Deus abençoe vocês

    • Mathias Botelho disse:

      Que bom que a senhora gostou! Seguimos lado a lado com as pessoas atingidas para garantir a participação informada no processo de reparação!

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