Instituto Guaicuy

Comunicação também é luta

10 de setembro, 2024, por Laura de Las Casas

*Este texto foi escrito por Sophia de Paula, Ana Clara da Cruz, Agata Victoria, Camili Aparecida Dias  e Iza Lana Francisca

Estamos aqui para participar do Encontro de Comissões de Pessoas Atingidas da Região 5, tanto do lado Leste como Oeste. Viemos com nossos parentes que participam dos grupos. Somos de comunidades da Região da Represa de Três Marias e do Rio São Francisco e vivemos o processo de reparação dos problemas que a Vale trouxe para as vidas das nossas famílias. As pessoas dos locais de onde moramos ficaram inseguras em usar a água da Represa de Três Marias e do Rio São Francisco, e isso mudou tudo, porque essas águas são parte de nós.

Saíram muitos boatos de que o peixe da nossa região havia sido contaminado, com isso veio a falta de compradores e a outra parte da economia que era movida por turistas diminuiu ainda mais, as pessoas já não vinham para os ranchos, não compravam do nosso peixe, os moradores ficaram em um estado bem frágil. Em termos da cultura, costumávamos ter muito contato com o Rio São Francisco e com a Represa de Três Marias. Mas, depois do rompimento, alguns dos moradores começaram a sentir alguns sintomas indesejados, como coceira, manchas no corpo e algumas viroses, por terem contato com a água. Muitos acabaram perdendo o costume de banhar nessas águas. Enfim, deixaram de ser quem eram.

Algumas pessoas podem achar que é besteira, mas acreditamos que essas tradições de manter contato com o rio sejam significativas tanto para nossos antepassados quanto para a geração futura. E também vimos as pessoas sentindo danos psicológicos quando as coisas começam a apertar e os pescadores e as faxineiras já não tinham mais a certeza de que teriam o recurso dos turistas, acabaram sendo abalados pelas dívidas e preocupações de como iriam resolver isso. A gente vê muita gente sofrendo e por isso temos que estar juntas, para conseguir alguma mudança. Somos jovens e sabemos que tem muita estrada pela frente. E temos sonhos!

Apesar de todos os desafios, acreditamos na nossa capacidade de transformar. Sabemos que, com união, podemos reconstruir as nossas tradições e criar novas oportunidades para todos. Esse encontro foi mais do que apenas um evento; foi um passo importante na construção de uma rede de apoio entre comunidades. A troca de experiências nos fortalece e nos mostra que, mesmo diante de tanta adversidade, há esperança.

Hoje, aqui em Curvelo, o Guaicuy nos recebeu e nos convidou para fazer a cobertura do encontro junto da equipe de comunicação deles. Foi uma experiência especial, porque aprendemos um monte de coisas novas. Aprendemos que a comunicação está em todos os lados: na televisão, na rádio, no celular, em uma carta, em um ofício enviado para a Justiça, na fofoca que contamos para as amigas, em livros, jornais e revistas, em uma imagem, em um bilhete, em um filme… E é por ela que a gente consegue transmitir a informação. E quando a gente fala sobre a luta das pessoas atingidas pela mineração, a informação é muito importante.

Aprendemos a configurar uma câmera fotográfica profissional para fotos e vídeos, e aprendemos também a fazer entrevistas. Quando entrevistamos a Dona Zezé, da comunidade de Vila dos Albanos, ela nos contou como era a vida na beira do Rio São Francisco, de como é importante para ela fazer parte da luta pelos direitos e de como ela ama os filhos. A gente adorou essa experiência, porque escutar a história dela foi como estar vivendo a história dela um pouco. Fizemos muitas perguntas e inclusive aprendemos a fazer as perguntas certas. Entrevistamos também umas às outras, e foi legal saber mais sobre as colegas. A maioria de nós não se conhecia e adoramos fazer novas amizades. Somos um grupo de sete jovens mulheres, e também entendemos um pouco melhor sobre a importância da gente poder contar nossas próprias histórias.

Confira as fotos da cobertura feita pela Mídia Jovem do Guaicuy! 

Durante o evento, a gente tirou fotos de todos os momentos. Registramos as pessoas que participaram do encontro e também da decoração feita pelo Guaicuy, com placas, fotos e estandartes muito coloridos. Também tiramos fotos das reuniões dos grupos para debate do regulamento das comissões e das plenárias e da ciranda, que distraiu as crianças enquanto os pais e mães participavam dos grupos. Aconteceu muita coisa e era importante registrar, para depois poder enviar para quem não pôde vir, contando como foi. Em outros momentos, a gente gostou de passear pelo espaço do evento e fazer fotos mais conceituais e pessoais. Brincamos e rimos bastante. Adoramos a experiência.

Além de toda a técnica, aprendemos algo ainda mais valioso: que contar histórias é, em si, uma forma de resistência. Quando nos unimos para narrar nossas vivências, compartilhamos nossa força e inspiramos outras pessoas a não desistirem. A comunicação nos dá voz, nos conecta e nos ajuda a construir pontes com quem está longe. Cada imagem, cada palavra dita ou escrita, é um tijolo na construção do nosso futuro.

Esse dia junto da equipe do Guaicuy nos inspirou a criar um grupo da mídia jovem, para que a gente mantivesse contato e pudesse pensar em como podemos fazer outras coberturas. Queremos aprender ainda mais sobre as formas de informar. Queremos ser a voz das nossas comunidades, registrar nossas lutas e também nossas conquistas, porque acreditamos que o futuro é nosso.

Comunicação também é luta! Até breve!

Gostou do conteúdo? Compartilhe nas redes sociais!

O que você achou deste conteúdo?

O seu endereço de e-mail não será publicado. Todos os campos são obrigatórios.

Ao comentar você concorda com os termos de uso do site.

Assine nossa newsletter

Quer receber os destaques da atuação do Guaicuy em primeira mão? Assine nosso boletim geral!