Pesquisa da UFRJ foi realizada logo após o desastre-crime; segundo especialistas, a proliferação desses micro-organismos no Rio Paraopeba representa potencial risco à saúde
Um estudo recém-publicado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e de outras instituições mostra que o rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, em 2019, afetou a população de bactérias do Rio Paraopeba. A pesquisa da UFRJ foi realizada logo após o desastre-crime e identificou, entre outros impactos, a presença de bactérias resistentes a antibióticos nas amostras coletadas desde Brumadinho até Angueretá, distrito de Curvelo, na Região Central de Minas.
Segundo o estudo, a resistência a antibióticos aumentou significativamente para ampicilina, ampicilina/sulbactam, amoxicilina/clavulanato, ceftriaxona e cefalotina entre as bactérias analisadas. Também foram encontrados indícios de contaminação fecal em todo o Paraopeba e aumento na concentração de metais.
Em entrevista à revista Piauí, o oceanólogo Fabiano Thompson, um dos autores da pesquisa, apontou uma conexão direta entre os rejeitos da barragem e o problema identificado. “A lama induziu o aumento da resistência aos antibióticos no Rio Paraopeba”, afirmou o pesquisador.
Entre outros fatores, a turbidez da água e o aumento da concentração de metais como ferro e cobre teriam ajudado a criar um ambiente propício para a proliferação desses micro-organismos, fazendo com que o Rio Paraopeba se tornasse um ponto potencial de risco à saúde.
Em nota, o Instituto Guaicuy destaca que a resistência à antibióticos oferece ameaças à saúde pública e reforça a importância de estudos independentes a respeito da qualidade das águas do Rio Paraopeba e do reservatório de Três Marias.
“A resistência desses microrganismos aos antibióticos pode ocasionar o prolongamento ou agravamento de doenças, dificultar a prevenção e tratamento, além de aumentar os custos com saúde, com mais testes diagnósticos, medicamentos mais caros e períodos mais longos de internações.”
[Veja a nota completa abaixo].
O Instituto Guaicuy vem por meio desta nota se posicionar a respeito da pesquisa recém divulgada através de vários meios de comunicação sobre o aumento de bactérias resistentes no rio Paraopeba, após o rompimento da barragem de Brumadinho.
Segundo o estudo, realizado por pesquisadores da UFRJ, houve aumento de grupos de bactérias que são resistentes a antibióticos na água do rio Paraopeba, em consequência do derrame de rejeitos de mineração na bacia, oriundos do rompimento da barragem da Vale. O aumento da turbidez e das concentrações de metais, como ferro e cobre no rio Paraopeba, tornou o ambiente mais propício à proliferação de bactérias indicadoras de contaminação por metais e por esgotos domésticos. Esse aumento foi observado em todos os locais amostrados, desde Brumadinho até a comunidade de Angueretá (município de Curvelo).
Os resultados indicam que o rejeito de minério não é inerte, com abundância de metais e pode induzir o crescimento de organismos resistentes aos metais, causadores de doenças, além de aumentar a abundância de bactérias resistentes a antibióticos. O aumento das concentrações de metais na água tem consequências diretas na diminuição da qualidade da água e na potencial contaminação de outros organismos. Por outro lado, a resistência desses microrganismos a certos antibióticos significa um risco à saúde humana.
A resistência desses microrganismos aos antibióticos podem ocasionar o prolongamento ou agravamento de doenças, dificultar a prevenção e tratamento, além de aumentar os custos com saúde, com mais testes diagnósticos, medicamentos mais caros e períodos mais longos de internações.
O trabalho dos pesquisadores ainda enfatiza as recomendações de não consumo da água, feita pelos órgãos estaduais de Minas Gerais, e reforça a necessidade de monitoramento e da continuidade de estudos direcionados para a avaliação desses organismos, pois os possíveis efeitos dos rejeitos nas populações de bactérias e suas consequências para a saúde humana são pouco conhecidos.
O Instituto Guaicuy também reforça a importância da continuidade das análises ambientais independentes a respeito da qualidade das águas (superficiais e subterrâneas), dos sedimentos, solos e das comunidades aquáticas, em atendimento às pessoas atingidas.
A integração destas análises potencializam a instrumentalização do processo de reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem de rejeitos, ao auxiliar a comprovação de danos ecológicos e à saúde humana ainda desconhecidos nos territórios atingidos ao longo do rio Paraopeba e reservatório de Três Marias, mas que necessitam de ser identificados, monitorados e reparados pela VALE ao longo do processo.
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