Instituto Guaicuy

Estudos indicam que rejeitos do rompimento da Vale em Brumadinho induziram aparecimento de Superbactérias no Rio Paraopeba

13 de janeiro, 2023, por Instituto Guaicuy

Pesquisa da UFRJ foi realizada logo após o desastre-crime; segundo especialistas, a proliferação desses micro-organismos no Rio Paraopeba representa potencial risco à saúde

Um estudo recém-publicado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro  (UFRJ)  e de outras instituições mostra que o rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, em 2019, afetou a população de bactérias do Rio Paraopeba. A pesquisa da UFRJ foi realizada logo após o desastre-crime e identificou, entre outros impactos, a presença de bactérias resistentes a antibióticos nas amostras coletadas desde Brumadinho até Angueretá, distrito de Curvelo, na Região Central de Minas. 

Segundo o estudo, a resistência a antibióticos aumentou significativamente para ampicilina, ampicilina/sulbactam, amoxicilina/clavulanato, ceftriaxona e cefalotina entre as bactérias analisadas. Também foram encontrados indícios de contaminação fecal em todo o Paraopeba e aumento na concentração de metais. 

Em entrevista à revista Piauí, o oceanólogo Fabiano Thompson, um dos autores da pesquisa, apontou uma conexão direta entre os rejeitos da barragem e o problema identificado. “A lama induziu o aumento da resistência aos antibióticos no Rio Paraopeba”, afirmou o pesquisador.

Entre outros fatores, a turbidez da água e o aumento da concentração de metais como ferro e cobre teriam ajudado a criar um ambiente propício para a proliferação desses micro-organismos, fazendo com que o Rio Paraopeba se tornasse um ponto potencial de risco à saúde.

Riscos à saúde

Em nota, o Instituto Guaicuy destaca que a resistência à antibióticos oferece ameaças à saúde pública e reforça a importância de estudos independentes a respeito da qualidade das águas do Rio Paraopeba e do reservatório de Três Marias. 

“A resistência desses microrganismos aos antibióticos pode ocasionar o prolongamento ou agravamento de doenças, dificultar a prevenção e tratamento, além de aumentar os custos com saúde, com mais testes diagnósticos, medicamentos mais caros e períodos mais longos de internações.”

 [Veja a nota completa abaixo]. 

NOTA DO INSTITUTO GUAICUY

O Instituto Guaicuy vem por meio desta nota se posicionar a respeito da pesquisa recém divulgada através de vários meios de comunicação sobre o aumento de bactérias resistentes no rio Paraopeba, após o rompimento da barragem de Brumadinho.

Segundo o estudo, realizado por pesquisadores da UFRJ, houve aumento de grupos de bactérias que são resistentes a antibióticos na água do rio Paraopeba, em consequência do derrame de rejeitos de mineração na bacia, oriundos do rompimento da barragem da Vale. O aumento da turbidez e das concentrações de metais, como ferro e cobre no rio Paraopeba, tornou o ambiente mais propício à proliferação de bactérias indicadoras de contaminação por metais e por esgotos domésticos. Esse aumento foi observado em todos os locais amostrados, desde Brumadinho até a comunidade de Angueretá (município de Curvelo). 

Os  resultados indicam que o rejeito de minério não é inerte,  com abundância de metais e pode induzir o crescimento de organismos resistentes aos metais, causadores de doenças, além de aumentar a abundância de bactérias resistentes a antibióticos. O aumento das concentrações de metais na água tem consequências diretas na diminuição da qualidade da água e na potencial contaminação de outros organismos.  Por outro lado, a resistência desses microrganismos a certos  antibióticos significa um risco à saúde humana.

A resistência desses microrganismos aos antibióticos podem ocasionar o prolongamento ou agravamento de doenças, dificultar a prevenção e tratamento, além de aumentar os custos com saúde, com mais testes diagnósticos, medicamentos mais caros e períodos mais longos de internações.

O trabalho  dos pesquisadores  ainda enfatiza as recomendações de não consumo da água, feita pelos órgãos estaduais de Minas Gerais, e reforça a necessidade de monitoramento e da continuidade de estudos direcionados para a avaliação desses organismos, pois os possíveis efeitos dos rejeitos nas populações de bactérias e suas consequências para a saúde humana são pouco conhecidos. 

O Instituto Guaicuy também reforça a importância da continuidade das análises ambientais independentes a respeito da qualidade das águas (superficiais e subterrâneas), dos sedimentos, solos e das comunidades aquáticas, em atendimento às pessoas atingidas. 

A integração destas análises potencializam a instrumentalização do processo de reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem de rejeitos, ao auxiliar a comprovação de danos ecológicos e à saúde humana ainda desconhecidos nos territórios atingidos ao longo do rio Paraopeba e reservatório de Três Marias, mas que necessitam de ser identificados, monitorados e reparados pela VALE  ao longo do processo. 

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