A feira de ciências foi realizada no último sábado (20), na Escola Estadual Antonina Mascarenhas Gonzaga, em Angueretá, Curvelo, com alunos e alunas de todo o corpo escolar. A atividade é um espaço de envolvimento da comunidade e teve a participação e parceria do Instituto Guaicuy.
O tema apresentado pelos alunos e alunas para a realização da Feira de Ciências 2021 foi o rompimento da barragem da mineradora Vale que atingiu o rio Paraopeba, em janeiro de 2019.
Em março surgiu a proposta de participação do Guaicuy a partir de alguns encontros com referências da comunidade, educadores e educadoras da escola. Nas apresentações durante a feira, os ambientes de cada sala de aula deram espaço para reflexões sobre as formas que o rompimento atingiu a comunidade em que os alunos vivem.
“Foi um evento construído a muitas mãos, a escola com todos seus educadores, membros de várias equipes do instituto: Agrárias, Ambiental, Direitos, equipe de campo, comunicação, logística. Pessoas que se dedicaram nos últimos meses. Além disso, o envolvimento dos alunos na construção das maquetes cheias de informações antes desconhecidas sobre mineração, rompimento e o rio que é parte de Angueretá. É valioso ver outras perspectivas dos danos e ainda construir vínculos com a comunidade e familiares que foram prestigiar o trabalho de seus filhos e filhas” conta Caroline Mendonça, da equipe de coordenação de campo.
A proposta para a feira foi um trabalho em circuito a partir de cada sala de aula, começando pela história de Angueretá, logo em seguida o rompimento e seu contexto, os danos ao meio ambiente e à vida das pessoas, e por fim, chegando na Angueretá do futuro, o território que a comunidade quer construir.
Edna Mara Faria Vieira, diretora da escola, conta sobre a importância do tema para os pequenos e como as consequências do rompimento podem ser replicadas por eles na comunidade onde vivem. “Hoje nós finalizamos a feira de ciências e foi muito positivo e gratificante trabalhar com eles e ter o retorno que tivemos. Mostraram que tudo que foi trabalhado eles aprenderam e de agora para frente tudo que aprenderam vão transmitir, transferir para as pessoas.”
O espaço também contou com atividades que ensinavam a como identificar se o rio está saudável. Por meio de cartazes, os alunos também escreveram sobre os danos ambientais, psicológicos, sociais, culturais, econômicos e estruturais causados pelo rompimento.
Além disso, também com a ajuda de desenhos e fotografias, eles e elas contaram sobre o antes e o depois do rompimento. Reconstruíram maquetes para mostrar a dinâmica de construção de uma barragem e o ambiente no entorno do rio Paraopeba.
Veja as imagens da atividade:
Para o professor Ivan Bueno de Oliveira, o espaço foi importante não só para fomentar a discussão sobre os impactos causados após a ruptura da barragem como a perda do lazer e renda na comunidade, mas também trazer o debate sobre os impactos nos mais jovens. “Queríamos mostrar as consequências. As pessoas mais velhas se interessam por essas questões e aí nós colocamos os nossos jovens para entender esse contexto. Fizemos todos esses trabalhos que estão aqui, também maquetes das barragens, do distrito e do rio que eles convivem direto,” explica.
Ainda no início do mês de novembro, os técnicos do Guaicuy em conjunto com os professores iniciaram as atividades preparativas para a feira de ciências na escola. Participaram dos encontros alunos do Ensino Fundamental, Médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA). Nos dois dias de encontro, foram realizadas atividades como oficinas de audiovisual e temas que envolvem o processo de reparação integral.
Juliana de Athayde, da equipe de Direitos das Pessoas Atingidas no Instituto Guaicuy, reforça o quanto as divisões de cada ação foram importantes para o diálogo sobre os danos sofridos pela juventude nos territórios. “Foi uma atividade para auxiliá-los na construção da feira e também para trazer um processo de participação informada da juventude na reparação, bem como um levantamento de danos e todo esse trabalho direcionado à juventude.”
Confira a seguir algumas imagens das oficinas:
Além disso, a advogada relata o caminho para o diálogo sobre o tema reparação com a turma: “construímos uma linha do tempo do antes e depois do rompimento e quais as mudanças que existiram. A partir disso, conversamos com eles sobre reparação: como reparar, como reconstruir o rio, as mudanças e sobre a abertura do processo judicial, que é a garantia da reparação”, completa a advogada.
“Gostei muito da oficina sobre as formas de gravação, achei muito legal contar histórias sobre imagem, da narrativa sobre imagens. Aprendi muito sobre as fotos, vídeos e sobre os planos, fundo, essas coisas de imagem” revelam os alunos de 12 e 13 anos.
Para o professor Matheus Matos, as atividades foram produtivas e chamaram a atenção dos alunos e alunas da escola. “Foi uma experiência rica e com muita empolgação dos meninos. Fiquei bem satisfeito com o retorno dos alunos com um assunto tão maduro e querendo contribuir com o trabalho escolar”.
“Foi muito viável o bate papo, as atividades, a interação com os meninos porque além dos professores que já estão com eles todo dia dentro da sala de aula, é importante quando eles vêem uma pessoa de fora trazendo uma proposta de trabalho pra eles. Ficam muito empolgados”, diz Carla Costa, vice-diretora na escola.
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