As conferências são espaços onde a população tem o direito de apresentar suas demandas e participar da elaboração de políticas públicas. Com isso, a presença das pessoas atingidas na 6ª Conferência Municipal de Saúde de São Gonçalo do Abaeté, que aconteceu nos dias 5 e 6 de julho, representa a possibilidade de chamar atenção do poder público para os danos sofridos pelas populações atingidas pelo rompimento da barragem da Vale.
Como forma de dar subsídio para formulação de políticas que busquem reparar a situação de saúde das comunidades atingidas de São Gonçalo do Abaeté, o Guaicuy apresentou os dados da Pesquisa em Saúde realizada entre junho de 2021 e fevereiro de 2022.
A pesquisa é um importante instrumento para avaliar a situação de saúde das pessoas atingidas. Na ocasião foi possível levar a situação destas comunidades para o conhecimento da prefeitura municipal e da secretaria de saúde.
Maurílio é morador da comunidade Pontal do Abaeté, a beira do rio São Francisco, ele aproveitou a participação na conferência para chamar atenção dos profissionais e gestores de saúde para as questões específicas dos ribeirinhos. “Antes da pandemia acontecer, houve o rompimento da barragem, depois vieram as enchentes (início do ano de 2022). Imaginem como está a cabeça de nós ribeirinhos. Me refiro psicologicamente, mas hoje sabemos que atingiu de outras formas a saúde”, afirma. Maurílio.
A apresentação na conferência foi realizada pelas integrantes da equipe de Saúde e Assistência Social, Paula Mota e Raquel Nazareth, além da participação do coordenador de campo, Hélio Sato, que contextualizou o trabalho do Guaicuy na região.
As conferências são espaços de participação social garantido pela Lei 8142/90, onde todos e todas, têm a oportunidade de propor melhorias nos serviços de saúde da sua cidade.
Neste sentido, a presença das pessoas atingidas abriu uma janela para que o poder público observe os danos e agravos que vieram com o rompimento da barragem da Vale que há quase 4 anos modificou os modos de vida das populações ribeirinhas do paraopeba, represa de Três Marias e comunidades do Rio São Francisco, próximas a represa e que são assessoradas pelo Guaicuy.
Para Paula Mota, coordenadora da equipe de Saúde e Assistência Social do Instituto Guaicuy, a participação na conferência representou um passo importante. “Com a presença das pessoas atingidas, participando e elaborando políticas para trazer reparação, para atender as demandas da saúde das pessoas que foram atingidas pelo rompimento”, explica.
Além disso, Paula destaca o quanto é importante esse contato com o município e a gestão da saúde “para que eles possam ser sensibilizados, olhem para esses resultados e qualifiquem seus serviços”.
Confira a seguir as fotos da Conferência feitas por João Carvalho.
Para Maurílio o momento significou “um elo de aproximação da comunidade com o poder público, de poder tá opinando, trazendo ideias novas e buscando soluções rápidas e eficientes para a nossa comunidade”.
Além disso, ele destaca sobre a importância da pesquisa na busca por direitos dentro do processo de reparação “é muito importante aqueles dados que foram colhidos da própria saúde, pois isso vai fortalecer a nossa luta diante da Vale. Vai dar força para que o juiz olhe com outros olhos”, avalia.
Para a subsecretária de saúde do município, Elisângela Sena, a pesquisa em saúde apresentada pelo Guaicuy possibilitou trazer um olhar diferenciado para a população ribeirinha. Para ela, a pesquisa permitirá “subsidiar ações que possam contribuir para melhoria da assistência em saúde para a população ribeirinha. Creio que a partir de hoje vamos ter um olhar diferente para essa população”, afirma.
A pesquisa em saúde foi realizada no período de junho de 2021 a fevereiro de 2022, pelo Guaicuy, em parceria com o Instituto Olhar.
Foram realizadas análises dos bancos de dados oficiais de saúde e entrevistas com pessoas atingidas, gestores e profissionais de saúde nos municípios de Curvelo e Pompéu, Abaeté, Biquinhas, Felixlândia, Martinho Campos, Morada Nova de Minas, Paineiras, São Gonçalo do Abaeté e Três Marias.
Durante a conferência foram apresentados apenas os dados secundários coletados do município de São Gonçalo do Abaeté e os resultados das análises das entrevistas com participantes da região 5 leste.
Além de danos à saúde física e mental, foram observados outros impactos relacionados ao rompimento que repercutem na saúde, tais como no trabalho e renda, na segurança alimentar e nutricional das pessoas atingidas, assim como surgimento de conflitos familiares e comunitários, e situações de estigma e discriminação.
Durante a apresentação Paula Mota lembra que os impactos do rompimento podem acontecer em curto, médio e longo prazo, podendo durar até décadas. Além disso, danos que não aparecem a curto prazo podem aparecer depois de anos.
Essa também é uma preocupação da população ribeirinha, que durante a conferência, apontou a importância das comunidades receberem água tratada como uma política de saúde, devido as preocupações dos possíveis danos que podem surgir à longo prazo pelo consumo da água do rio e da represa.
Além dos resultados da pesquisa em saúde, a equipe do Guaicuy se preocupou em apontar possíveis caminhos para construção de políticas públicas capazes de promover a reparação das pessoas atingidas pelo rompimento da barragem.
Paula aponta a necessidade de fortalecimento da “política da atenção básica, da política de saúde mental (psicossocial), vigilância em saúde, além de educação permanente dos profissionais de saúde que atendem as pessoas atingidas, trabalho de educação popular com as pessoas atingidas, estudo a longo prazo e inclusão do monitoramento e vigilância no plano municipal de saúde”, elenca.
Veja algumas das propostas apresentadas na conferência como forma de reparar os danos em saúde no município:
Quer saber mais sobre a Pesquisa em Saúde do Guaicuy? Confira a matéria especial.
O que você achou deste conteúdo?