Instituto Guaicuy

Guaicuy participa do treinamento presencial do PAEBM em Antônio Pereira

7 de dezembro, 2023, por Mariana Viana

O treinamento foi realizado no dia 26/11 com a participação da Defesa Civil de Ouro Preto

A equipe do Guaicuy, Assessoria Técnica Independente que atua em Antônio Pereira, distrito de Ouro Preto/MG, solicitou um simulado presencial à mineradora Vale, responsável pelo descomissionamento da Barragem Doutor. O treinamento, realizado com funcionárias e funcionários de todos os setores do instituto, aconteceu no dia 26 de novembro no território e teve como objetivo entender melhor a rota de fuga localizada nas proximidades do Centro Promocional Padre Ângelo – onde está situado o escritório do Guaicuy, os processos de segurança e o Plano de Ação de Emergência para Barragens de Mineração (PAEBM). O plano faz parte da Política Nacional de Segurança de Barragens e foi acionado   em função do risco de rompimento da Barragem Doutor.

O PAEBM é um documento técnico, exigido por lei, protocolado entre prefeituras e Defesa Civil (municipal, estadual e federal) e é responsável por identificar os potenciais riscos da barragem; apontar quais ações executadas no caso de rompimento e definir quem são os agentes a serem notificados, a estratégia usada, o meio e alerta de divulgação para as comunidades do entorno. O treinamento contou com a presença da Defesa Civil municipal de Ouro Preto.

O simulado foi elaborado em dois momentos, sendo a primeira parte para exposição da mancha de inundação e elementos de autoproteção e a segunda voltada para o deslocamento até o ponto de encontro mais próximo após o toque da sirene. Várias perguntas foram levantadas pelo Guaicuy antes e depois do percurso realizado, sendo muitas delas questões trazidas pela comunidade à Assessoria Técnica, tais como: de qual maneira identificar os limites das Zonas de Autossalvamento (ZAS)?; qual o mapa real da lama no território?; se o caminho da lama é visível em caso de rompimento da barragem.

O caminho percorrido seguiu uma das rotas de fuga, indicada por placas, iniciando na Rua Padre Ângelo, com destino até o ponto de encontro, situado na Escola Estadual Daura de Carvalho Neto, um dos pontos de encontro no distrito. Houve o toque real da sirene que avisaria o rompimento da barragem à população (antes foi emitida uma mensagem informando ser um simulado) e a necessidade de se locomover até a escola, considerada um local seguro onde a lama não alcançaria. A distância entre o escritório da ATI até o ponto de encontro foi feita em pouco tempo (cerca de 5 minutos). No fim da caminhada, alguns problemas na sinalização da rota foram relatados, como dificuldade de se ouvir a sirene em meio a outros ruídos na comunidade; a falta de manutenção nas placas com os avisos de ‘Rota de fuga’, algumas vezes cobertas pela vegetação ou mal fixadas no solo; centro de informações da mineradora pouco visível.

Foto: Léo Souza/Instituto Guaicuy

Simulado, sirene e medo da população

Nos dias 27 e 28 de novembro, moradores e moradoras de Antônio Pereira entraram em contato com o Guaicuy comentando a respeito do simulado, das rotas de fugas com baixa visibilidade e a reação causada nas famílias pelo acionamento da sirene.

O teste com a sirene de emergência acontece todos os primeiros sábados do mês no território, algo já conhecido pela população. No entanto, de acordo com a comunidade, não foi feita com antecedência uma comunicação mais efetiva do simulado ocorrido dia 26 de novembro, domingo, por meio de diversos meios (carro de som, aviso em grupos de Whatsapp, cartazes em estabelecimentos), limitando-se a faixas escritas com fonte pequena no CRAS e Correios em Antônio Pereira, o que gerou medo e agitação em muitas pessoas.

Para uma moradora da Vila Samarco, que prefere não ter o nome divulgado, o acionamento da sirene trouxe desespero: “Estou em casa até com vontade de chorar. Hoje não é dia de sirene, estou assustada. Ainda passa o carro da Vale aqui com a sirene ligada na minha porta. Isso não pode acontecer, é falta de respeito com a nossa comunidade. (…) ‘Tinha que ter pelo menos comunicado antes porque iria ligar a sirene, não fazer dessa forma. É apavorante, é tortura pra todos nós de Antônio Pereira”.

Em outro relato, mais uma moradora demonstra a indignação com a comunicação ineficaz da Vale sobre o treinamento e falta de diálogo com a comunidade:  “Nós não somos obrigados a fazer o simulado a hora que eles querem. Nós temos crianças dentro de casa, temos idosos. (…) E quem está dormindo? E as crianças, os animais? O que vai ser da Vila? Não é assim, tem gente que tem dificuldade de ler faixa, de não sair da Vila. Isso está errado”.

A população de Antônio Pereira avalia fazer uma denúncia em conjunto para a ouvidoria da mineradora relatando a situação sofrida no dia do simulado presencial.

Busca por esclarecimentos

Ao final do simulado, a equipe do Guaicuy percebeu a necessidade de solicitar um segundo treinamento sobre o PAEBM com a mineradora, na esperança de sanar parte das dúvidas diante do risco de rompimento da Barragem Doutor. Confira a lista das principais perguntas feitas pela Assessoria Técnica e as respostas dadas pela mineradora:

  1. Como as pessoas podem identificar de maneira clara onde começam e terminam as ZAS?
    A mineradora respondeu que as ZAS já possuem indicação e não haveria necessidade de se delimitar mais a área.
  2. Qual o mapa real da lama no território?
    Primeiramente, os realizadores do simulado disseram que essa informação consta no documento do PAEBM, disponibilizado no site da empresa.
  3. Dificuldade em se ouvir o ronco da sirene em meio aos ruídos da comunidade.
    Os responsáveis disseram que há vários pontos da sirene espalhados pelo distrito e que, perto da ZAS, a sirene possui volume mais alto.
  4. Falta de manutenção nas placas de ‘Rota de fuga’, cobertas por árvores e mal fixadas no solo.
    A mineradora pediu para o Guaicuy reportar as deficiências encontradas e se comprometeu a fazer as manutenções necessárias.
  5. Centro de Informações da mineradora em Antônio Pereira é mal sinalizado, o que faz com que parte da população não o conheça. Como isso pode ser tratado?
    Os responsáveis pelo treinamento concordaram que é importante ter a população no centro e irão melhorar a sinalização para que mais pessoas frequentem o espaço.

Por Júlia Zuza

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