Instituto Guaicuy

Coletivos de pessoas atingidas apresentam documento ao Procurador Geral de Justiça de MG sobre falhas na execução do Acordo

23 de agosto, 2023, por AMICD

ATI Paraopeba
2023
Os coletivos Guerreir@s, Paraopeba Participa e Rede dos Atingidos pela Vale – grupos auto-organizados de pessoas atingidas pelo desastre-crime da Vale – enviaram, no final de junho, um documento ao Procurador Geral de Justiça de Minas Gerais, Jarbas Soares. No documento, os coletivos listam diversas falhas na execução do Acordo firmado entre o Poder Público e a Vale para reparar os danos coletivos e difusos causados pelo rompimento da barragem em Brumadinho. Leia aqui o documento completo.  As pessoas atingidas também apresentam sugestões de melhorias. Jarbas Soares havia solicitado o levantamento dos problemas na execução do Acordo durante visita à comunidade atingida de Vista Alegre, no município de Esmeraldas (Região 3), no início de junho. “Durante a visita feita pelo procurador, tivemos a chance de dizer que vários pontos do Acordo não estavam sendo cumpridos. Então, ele nos pediu para listar quais eram esses pontos, e o que poderia ser melhorado. A Rede de Atingidos pela Vale procurou os demais grupos para construir esse documento detalhado”, explica Tatiane Menezes, integrante do Guerreir@as e moradora do assentamento Queima Fogo, em Pompéu, uma das comunidades atingidas pelo desastre-crime da Vale.

Confira abaixo alguns dos principais pontos citados no documento:

  1. Falta de transparência
Os coletivos criticam a não existência de um calendário de ações do Acordo por parte dos Compromitentes (Ministérios Públicos Federal e Estadual, Defensoria Pública Estadual e Governo de Minas Gerais) e da Vale. “É necessário haver fiscalização e punição aos descumprimentos de prazos”, dizem as pessoas atingidas.
  1. Povos e Comunidades Tradicionais (PCTs)
O documento aponta a falta de agilidade no reconhecimento dos danos sofridos pelos PCTs e também o fato de que não foi dada a eles a possibilidade de fazerem consultas específicas, como prevê a lei.
  1. Cortes de recursos das ATIs
O recente corte de verbas das Assessorias Técnicas Independentes é mencionado no documento como um problema, já que o direito à assessoria é garantido na Lei Estadual 23795 de 2021. Segundo os coletivos, o trabalho das ATIs “é fundamental para que consigamos acessar as informações do processo, bem como para conseguirmos expor os nossos desejos para a reparação”.
  1. Anexo 1.1 (projetos de demandas das comunidades)
As pessoas atingidas afirmam que o processo do Anexo 1.1 está marcado pela ausência de participação popular nas decisões. Entre os pontos críticos, está a falta de publicização das propostas das entidades que concorreram para gerir parte dos recursos, bem como dos critérios usados, detalhadamente, para escolher a entidade. Os coletivos sugerem que os recursos do Anexo sejam ampliados nos primeiros dois anos de execução e que a entidade gestora, junto aos Compromitentes, apresente um cronograma de trabalho.
  1. Anexo 1.2 (PTR)
O texto critica a falta de padrão da Fundação Getúlio Vargas (FGV) ao analisar os documentos das pessoas que buscam acessar o Programa de Transferência de Renda (PTR). São citados exemplos de núcleos familiares em que parte das pessoas foi considerada apta ao PTR e outra parte, não, mesmo com os mesmos documentos. A FGV também é criticada pela demora em abrir escritórios nas regiões atendidas e por falhar na comunicação com as pessoas atingidas. Outro ponto levantado pelos coletivos é que, devido ao grau de informalidade vivido nas zonas rurais, muitas pessoas atingidas não conseguem se cadastrar no PTR por não terem nenhum dos documentos exigidos para o programa. “Para pessoas que estejam em  situação de vulnerabilidade documental é imprescindível que considerem outras maneiras de comprovação para ter direito ao recebimento do PTR”, sugere o documento.
  1. Anexo 1.3 (fortalecimento de políticas públicas)
Os coletivos criticam a falta de participação das pessoas atingidas no processo de Consulta Popular sobre os projetos de fortalecimento de políticas públicas, realizada no final de 2021. Afirmam que a Vale está realizando “orçamentos superfaturados” e que as informações estão concentradas nos poderes executivos municipais. “As boas práticas da administração exigem que os beneficiários dos projetos sejam ouvidos para terem as suas necessidades atendidas”, diz o texto.
  1. Demandas emergenciais
O documento lembra que muitos dos critérios de medidas emergenciais foram determinados no início de 2019 e deveriam ser revistos. “Após mais de quatro anos do desastre-crime, já existem informações técnicas suficientes que  contribuam para a revisão desses critérios, de modo que a compromissária não  se limite a fornecer água para aquelas pessoas que tenham sua fonte de água a  uma distância de até 100 metros do rio Paraopeba e/ou que faziam a captação da água do rio Paraopeba antes do rompimento”, afirmam os coletivos. O documento entregue ao Procurador Geral de Justiça de Minas Gerais aborda outros pontos da reparação, como os Estudos de Risco, o Anexo 2, os danos supervenientes, entre outros. Leia o documento completo clicando aqui.

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