Instituto Guaicuy

Isso é cinema!

22 de julho, 2024, por Laura de Las Casas

Era noite de uma sexta-feira em uma rua da comunidade de Beira Rio, em São Gonçalo do Abaeté, e dona Zelma Gonçalves da Silva estava a postos, em frente a casa onde mora, à espera do início de uma sessão de cinema. Aquela não seria uma mostra qualquer. Na telona montada ao ar livre, em um terreno aberto da vizinhança, dessa vez, uma das protagonistas do filme era ela mesma. “Nunca tinha visto um cinema assim, na rua, comendo pipoca, ainda mais comigo aparecendo no filme. Que chique!”, disse, ao final da sessão. 

Dona Zelma estava assistindo junto à sua família, todos integrantes do povo cigano Calon, ao documentário Ciganos Calon: luta e resistência em Beira Rio, durante mais uma realização do Cine D’Água. O filme conta a história de seu povo, e aborda a forma como foram afetados pelo rompimento da barragem da Vale. A atividade é um cinema comunitário realizado nos territórios atingidos pela mineradora, com intuito de transmitir em primeira mão as produções audiovisuais do Guaicuy sobre as regiões onde atua. A intenção é registrar as memórias, as vozes, a cultura, as belezas, as dores e a diversidade das pessoas que tiveram suas vidas modificadas pela presença do rejeito tóxico na bacia do Paraopeba, na Represa de Três Marias e no Rio São Francisco. 

Segundo Daniela Paoliello, supervisora de audiovisual do Guaicuy, o evento busca mobilizar as pessoas atingidas, através das narrativas coletivas registradas, criando um espaço lúdico de diálogo e construção política. “A gente convida quem participou das filmagens e transmite, em primeira mão, em suas comunidades,  para que elas possam construir conosco esse espaço de aparição. Ao final, elas podem nos dizer se faltou algo no documentário ou qualquer outra questão, para que a gente possa fazer a versão final e divulgar para o mundo”, explica. 

O resultado do Cine D’Agua é perceptível: a risada das crianças, os olhos atentos de quem se vê na tela grande, os comentários sobre as vozes ecoadas ou sobre uma cena bonita captada. Tudo isso reafirma o poder revolucionário do cinema, que conecta pessoas, conta histórias, cria representatividade, comove, estimula, denuncia e acolhe. 

“Vou mandar pra todo mundo ver!”, disse dona Zelma, depois de um dia de artista.

 

Foto: João Carvalho/Instituto Guaicuy

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