Instituto Guaicuy

Marcante e comovente, “Quanto vale o que não tem preço?” é um documentário sobre quem perdeu moradia, sonhos e modos de vida para a mineração predatória no interior de MG

1 de julho, 2024, por Mariana Viana

O novo documentário do Guaicuy será lançado dia 3 de julho, no Restaurante Recanto Mineiro (Pesque Pague), localizado na Rua do Tabuleiro, nº 207, em Antônio Pereira, e nas plataformas digitais do Guaicuy (YouTube e Instagram)

Talvez você nunca tenha ouvido falar sobre o que é uma ZAS (Zona de Autossalvamento), mas se já leu ou ouviu sobre os rompimentos de barragens em Mariana (2015) e Brumadinho (2019), ambos em Minas Gerais, sabe que, por onde passou, a lama soterrou sonhos, modos de vida e residências. Em Antônio Pereira, distrito de Ouro Preto/MG, não houve colapso de barragem, mas centenas de famílias tiveram as mesmas perdas, porque residiam em uma área/zona que será coberta por lama de rejeitos caso a Barragem Doutor venha a romper. Essa é a ZAS!

Atuando como Assessoria Técnica Independente (ATI) dessas pessoas desde dezembro de 2022, assim como de todo a população de Antônio Pereira, vítima dos danos causados pelas obras de descaracterização da barragem da mineradora Vale, o Instituto Guaicuy lança este mês, no dia 3 de julho, a produção audiovisual “Quanto vale o que não tem preço?”, o primeiro documentário brasileiro sobre uma Zona de Autossalvamento e a devastação social e ambiental causada pela mineração predatória.

ZAS de Antônio Pereira Crédito: Gabriel Nogueira/Instituto Guaicuy

O Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração (PAEBM) define ZAS como a região localizada até 10 km das barragens ou a uma distância equivalente a 30 minutos para salvar a própria vida diante de uma possível inundação. Por isso, a resolução 04/19 da Agência Nacional de Mineração proíbe que essas zonas sejam habitadas ou tenham presença humana e de animais selvagens ou de estimação.  

Os dados a respeito do tempo de inundação constam nos Estudos de Dam Break (em tradução livre, ruptura de barragem), inseridos no Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração (PAEBM) da Barragem Doutor, de 2021. No distrito de Antônio Pereira, o PAEBM determinou que a mineradora Vale realizasse a desocupação dos imóveis da ZAS nos anos de 2020 e 2021. Mas, o que restou depois desses espaços vazios? Qual o destino e o futuro das pessoas que foram obrigadas a sair de suas casas em plena pandemia da Covid-19 e sem garantias que suas necessidades de moradia digna, saúde e acolhimento seriam atendidas?

Ana Carla Cota, removida da ZAS. Crédito: Instituto Guaicuy

“Pra eu chegar aqui no hotel, passou aquele dia dramático do dia 19 de janeiro. Eu chego aqui com uma malinha de mão, imaginando que eu ia passar apenas 15 dias, porque foi isso que foi falado pra mim: que eu viria para o hotel até conseguirem uma casa. E eu vim completamente despreparada tanto emocionalmente quanto psicologicamente para o que me aguardava aqui no hotel. Então, assim, uma malinha de mão com meus filhos para passar 15 dias, se passaram dois anos…”, relata Ana Carla Cota, removida da Vila Residencial Antônio Pereira em 2022, que desde então, mora em hotel enquanto tentar seguir a vida em meio a incertezas e traumas causados pela Vale.  

No documentário sobre a ZAS, a equipe multidisciplinar do Guaicuy traz para suas lentes a história dessas famílias que viram seus projetos de vida se transformarem em “cenário de guerra” com casas desocupadas e, depois, abandonadas pela mineradora Vale. O filme é sobre pessoas que enfrentam o adoecimento mental diante da incerteza do futuro e que, mesmo enfrentando uma das maiores empresas do mundo, continuam na luta por justiça e reparação.

As dores e as angústias dos vizinhos da ZAS

O limite entre as ZAS e as áreas consideradas fora do risco de alagamento, em muitos casos, é de apenas alguns passos. Mas, os danos para quem se tornou vizinho de uma área abandonada e insegura são inúmeros. 

Carlos Rogério, morador de Antônio Pereira, vizinho da ZAS. Crédito: Instituto Guaicuy

“A barbearia, eu tenho ela desde 2007, nesse exato endereço. Era bem movimentado. A renda era ótima. Nós tínhamos além da renda, mais segurança para trabalhar. Eu chegava a fechar essa barbearia aqui umas 9 horas da noite. Agora, 6…7 e pouca (da noite), já não tem cliente mais. Eu não fui removido, mas com certeza, sem sombra de dúvida, eu fui prejudicado. Muito prejudicado. Eu tinha vida nesse lugar. Isso aqui lotava de gente […] A gente convivia muito bem com a vizinhança. Acabou! A rua está morta, porque tirou nossa qualidade de vida. Você não tem mais qualidade de vida. Você não tem perspectiva de uma coisa melhor, [que] o bairro vai crescer…Você vai em Mariana, está tudo direitinho, tudo arrumadinho, já aqui, esse trem aqui parecido cenário de guerra!”, lamenta Carlos Rogério, morador de Antônio Pereira.

SERVIÇO
Documentário “Quanto vale o que não tem preço?
Lançamento virtual e presencial: 03 de julho de 2024
Local: Restaurante Recanto Mineiro (Pesque Pague). Rua do Tabuleiro, nº 207, em Antônio Pereira e nas plataformas digitais do Guaicuy (YouTube e Instagram)
Horário: 19h
Clique aqui para conferir o teaser/convite

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