Instituto Guaicuy

Missa, caminhada e homenagens relembram impunidade nos cinco anos do rompimento da Vale em Brumadinho

29 de janeiro, 2024, por Laura de Las Casas

Romaria contou com missa emocionante e caminhada até o letreiro da cidade, onde as vítimas foram relembradas. 

Imagem de Pedro Lavigne – Guaicuy

O nome das 272 vítimas do rompimento da barragem da Vale, ocorrido em 25 de janeiro de 2019 em Brumadinho, estampavam as placas carregadas pelas centenas de pessoas que participaram da 5ª Romaria pela Ecologia Integral, realizada na última quinta-feira (25) na cidade da Região Metropolitana. Junto delas, diversas flores amarelas eram erguidas, fazendo parte dos emocionantes momentos da missa celebrada na marca dos cinco anos do desastre-crime. O lema da Romaria em 2024 foi “Das alturas, orvalhem os céus. E das nuvens, que chova justiça”, como forma de denunciar o tempo de impunidade pelo crime socioambiental. 

Entre moradores da cidade, integrantes de movimentos sociais e familiares das vítimas, estavam também representantes dos outros 25 municípios prejudicados pela mineradora. “É triste perceber como esse episódio causou dores irreversíveis em alguns. Mas estar aqui, conversar com as pessoas, cantar e rezar por quem se foi, também é uma forma de renovar a coragem, de perceber que não estamos sozinhos nesse barco e que vamos, juntos, chegar a algum lugar melhor”, disse Juliana de Paula, moradora de Forquilha do Cabral, em Três Marias. “Foi muito importante estar aqui e participar dessa caminhada. Me deu força”, completou. 

Imagem de Pedro Lavigne – Guaicuy

A missa foi realizada no Santuário Arquidiocesano Nossa Senhora do Rosário por Dom Francisco Cotta e Dom Joel Maria dos Santos. Também foi acompanhada por todos os padres das paróquias da cidade. Eles relembraram em vários momentos a luta pela reparação justa pelos danos causados pela Vale em todo o estado de Minas Gerais. Também falaram sobre a importância de se lutar por um modelo de mineração que seja respeitoso com o meio ambiente e com os seres humanos. “Os nomes estendidos nas placas não são meros números. São vidas que não voltam e que nunca podem ser esquecidas”, afirmou Dom Francisco durante uma das falas.  

As homenagens foram feitas das mais diversas formas, por meio de orações, leituras e cantorias – entre elas a emocionante música feita por Dom Vicente Ferreira, ex-bispo auxiliar de Belo Horizonte e atualmente bispo da Diocese de Livramento de Nossa Senhora (BA), que compôs a canção Lamento, em nome das vítimas. 

Caminhada até o letreiro

Imagem de Pedro Lavigne – Guaicuy

Após a missa, a Romaria seguiu rumo ao letreiro da cidade, onde um palco aguardava as pessoas para a continuidade das homenagens. No caminho, houve uma pausa na Ponte Central, sobre o Rio Paraopeba, onde o grupo amarrou fitas brancas com os nomes das vítimas e distribuiu fitinhas de pulso e corações. No letreiro, quando o relógio registrou 12h28, horário exato do rompimento cinco anos antes, o nome de cada uma das vítimas foi lido e balões vermelhos de gás hélio, recheados com sementes de girassol, foram soltos. A intenção é que cada semente germine e floresça, representando as 272 joias perdidas. Também foram lançados ao céu milhares de balões pretos, simbolizando cada dia de luto vivenciado pelas pessoas atingidas. 

O Instituto Guaicuy acompanhou um grupo de pessoas atingidas que se deslocaram de Curvelo, Pompéu, e da região da Represa de Três Marias para participar dos atos. A pescadora Quésia Martins, moradora de Santa Cecília (Pompéu) foi uma delas. Com a vida transformada pelo rompimento da barragem, ela relembrou os sentimentos do dia do desastre-crime, quando se deslocou até Brumadinho para prestar serviços voluntários nos resgates. 

“A gente nem imaginava como o que tinha acontecido aqui refletiria de forma tão direta na vida de pessoas como eu, que vive a tantos quilômetros daqui. Mas o rejeito percorreu o rio, chegou até a represa, e mudou a vida de milhões de pessoas. A nossa luta já tem um caminho longo percorrido, e estar aqui hoje reforça que estamos na direção certa. Queremos justiça para todo mundo que perdeu alguém querido, e também pras pessoas que seguem morrendo com as consequências desse crime, para o pescador que não tem mais peixe, para as pessoas que precisam se medicar para dar conta de tanta dor”, afirmou a pescadora. 

Até hoje, nenhuma pessoa ligada à Vale foi responsabilizada pelas 272 mortes e pelas consequências de um dos maiores crimes socioambientais ligados à mineração no mundo. 

Imagem de Pedro Lavigne – Guaicuy

Outras manifestações

No mesmo dia, foram realizadas várias manifestações, como a mobilização de pessoas na região do Córrego do Feijão, onde ocorreu o rompimento da barragem. O ato teve apoio do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). 

No dia anterior, 24 de janeiro, o MAB organizou duas atividades em Belo Horizonte. De manhã, aconteceu um debate na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) sobre a aplicabilidade da Política Nacional de Direitos das Populações Atingidas por Barragens (PNAB). Ana Clara Amaral, advogada do Guaicuy, representou o Instituto na mesa. Pela tarde, pessoas atingidas de toda a Bacia do Paraopeba marcharam da Praça Afonso Arinos até a Praça da Liberdade, em mobilização pela regulamentação da Política Estadual dos Atingidos por Barragens (PEAB). 

A Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos do Rompimento da Barragem da Vale em Brumadinho (Avabrum) também realizou outras atividades para marcar a luta por justiça cinco anos depois. Em 24 de janeiro, teve lugar uma carreata em Brumadinho. No dia 21, foi realizado um Memory Day, com um “passeio” ciclístico na cidade, que percorreu 12km em homenagem às 272 jóias. 

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