Bairro Havaí: Deslizamento em 2020 soterrou nascentes e destruiu uma casa. Área que abriga um dos últimos refúgios de área verde de BH é usada como depósito de lixo por moradores de bairros vizinhos.
Com a chegada do período chuvoso, os moradores e moradoras do bairro Havaí que vivem na borda da Mata da Represa, também conhecida como Mata do Havaí, região Oeste de Belo Horizonte, dão início a mais um período de angústia.
O motivo é o medo de um novo deslizamento em uma área da mata usada até hoje por muita gente como depósito de lixo e entulhos, mesmo após sucessivos pedidos às instituições públicas responsáveis para que a área passasse por uma vistoria em busca de soluções para o problema. Em julho deste ano, a comunidade se organizou para enviar ao Ministério Público um ofício com os pedidos de providências e até hoje não tiveram resposta.
A região, onde de acordo com a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) existem pelo menos 70 pontos de esgoto, o que sinaliza para a presença de ao menos 70 casas, já foi alvo de um grave deslizamento em janeiro de 2020, quando uma casa e quatro nascentes foram soterradas. O acidente afetou as três lagoas que faziam parte da vida de pessoas como Maria, dona de casa, que vive na região e adorava ficar na beira d’água pescando. “Agora fico olhando para lá e é a maior tristeza desse jeito que está. Tinha peixe grande, tinha tilápia, tinha bagre, traíra, carpa. Até surubim tinha. Tinha muitos peixes mesmo. Tinha rã, sapo. De um dia para o outro levou tudo. Eram três lagoas e desceu tudo”.
O local também já sofreu uma queimada neste ano. Os moradores reivindicam que a prefeitura de Belo Horizonte se comprometa em pensar alternativas para evitar os problemas e proteger a região, já que a Mata da Represa, localizada no bairro e apelidada de Mata do Havaí, é um dos últimos refúgios verdes da capital mineira. Com uma grande quantidade de árvores, há décadas tem atuado como o “filtro” da região. Ou seja, ela traz grandes benefícios para qualidade do ar nos bairros do entorno, como o Havaí e o Buritis. Ao todo, a mata se expande por cerca de 30 mil m².
O bairro Havaí possui uma riqueza ambiental relevante por ter vegetação de transição entre cerrado e mata atlântica, além de diferentes nascentes de água. “A Mata do Havaí é uma mata antiga, era um bioma de Mata Atlântica com transição de Cerrado, tinham árvores centenárias. Além de uma biodiversidade muito rica de animais e plantas, ainda existiam ali pelo menos sete nascentes que alimentam o Córrego do Cercadinho, que é afluente do Rio Arrudas”, relata Marcus Vinicius Polignano, Coordenador do projeto Manuelzão e membro da Diretoria do Instituto Guaicuy. A redução da cobertura vegetal nativa em função das diversas intervenções e da expansão da urbanização têm gerado, não sem surpresa, o aumento do número de desastres naturais envolvendo enchentes e inundações na região nos últimos anos.
Em março deste ano, moradores da região se mobilizaram contra uma autorização dada pela prefeitura para o corte de 927 árvores para a construção de um condomínio residencial de 12 mil m² no local. A edificação de empreendimentos desse porte, nesta área, não condiz com o Plano Diretor da capital. Essa e outras irregularidades motivaram protestos dos moradores e foram detalhadas em uma Ação Civil Pública movida pelo Instituto Guaicuy no dia 12 de abril, na qual a questão do risco dos deslizamentos também foi abordada. O alvará da obra foi suspenso por tempo indeterminado pela prefeitura para auditoria, uma importante vitória para a população de Belo Horizonte.
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