Assim foi com Valdecina Alves de Jesus, 59 anos, moradora do Recanto da Siriema, em Felixlândia. Durante muitos anos, ela teve os penteados, as tintas e os cortes como parte de seus trabalhos diários como cabeleireira. O correr do dia a dia foi parando de fazer sentido, com o tempo, por dar pouco retorno financeiro e satisfação pessoal, mas mudar de profissão parecia algo difícil para quem tinha se dedicado tanto tempo àquele ofício.
“Foi quando, há uns quinze anos, a Dulce, minha melhor amiga, me convidou a aprender a pescar com ela. Parecia tão distante da minha realidade, mas ela me embalou numa canoa e me fez ver que nunca é tarde pra gente aprender algo novo”, relembra Val. Hoje em dia, quase duas décadas depois, os grampos, secadores e tesouras de cabelo foram trocados pelas redes e pelo barco, sendo a pesca a principal fonte de renda da família.
Já a Dulce, Dulcilane Ponto, 53 anos, aprendeu a pescar há trinta anos com a amiga Josefa, também de Felixlândia. Casada com um pescador profissional, ela observava todas as artimanhas do marido e as repassava para quem tivesse interesse. Na época, Dulce trabalhava em um restaurante e também queria mudar de ares. Então, resolveu aceitar a proposta de Josefa para entender melhor os ofícios da pescaria. “Ela me ensinou a tecer e a entranhar rede, me ensinou os lugares certos de jogar a redee tudo mais do que sei”, relembra. Anos depois, Dulce conheceu Val em sua vizinhança, e viu surgir ali uma relação de muita amizade e confiança. Ao perceber a amiga cabeleireira desanimada com a vida profissional, Dulce se lembrou de quando Josefa a ajudou a se encontrar. “Perguntei à Val se eu podia mostrar como a vida pode ser boa dentro de um barco, buscando peixe. A gente não imaginava que seria tão ivertido”, relembra.
As pescarias aconteciam no começo da manhã e também de tarde, mas as “aulas” não terminavam quando elas saíam da represa. “Depois de recolher a rede, farta de peixe, era hora de levar pra casa e limpar tudo, fazer o nosso estoque para vender. Também tinha que dormir cedo. No dia seguinte, era hora de recomeçar”, diz Val. Quando começou a se sentir segura para enfrentar o barco sozinha, Val tirou sua carteira de pescadora profissional e decidiu deixar de vez os salões de beleza. Dulce se orgulha de ver a amiga há tantos anos colocando em prática o que aprendeu nos dias de imersão na Represa de Três Marias. “Agora ela pesca que nem eu, e eu gosto de ver a satisfação dela quando volta com o barco cheio. Viver do que a natureza nos dá”. Já Valdecina, tem certeza de que nunca irá esquecer o gesto da amiga no momento em que mais precisou. “Me sinto segura nas águas da represa. Deve ser porque aprendi a desbravar tudo isso com o carinho de outra mulher segurando a minha mão. Desse jeito a gente não tem medo de nada, a gente reinventa quantas vezes for preciso”, conclui.
Com o fim da piracema, começavam logo cedo, junto do sol, os dias de pescaria entre as amigas. Organizar a rede no barco e entender o jeito certo de remar foram os primeiros passos. “Me lembro de rir muito olhando a Val remando sem conseguir sair do lugar. Hoje em dia, a gente tem barco a motor, mas naquela época era no braço que a gente conduzia a canoa. Demorou um pouco, mas ela pegou o jeito”, conta Dulce. Val, sempre atenta e bem humorada, ia
prendendo o jeito certo de jogar a rede e depois recolher, sem perder os peixes capturados. “Parece simples, mas tudo tem que ser feito com agilidade e jeito. É só treinando para entender”, pontua a ex-cabeleireira.
As duas amigas aproveitavam o trajeto para jogar conversa fora, desabafar, relembrar casos antigos e mergulhar na represa para refrescar. “Se minha canoa tivesse ouvidos, saberia todos os nossos segredos”, comenta Dulce, rindo. Com a prática cada vez mais refinada, os peixes chegavam em abundância: curimatá, piranha, mandinha, surubim, dourado. “O que aparecia na rede era celebrado, sinal de que eu estava aprendendo direitinho”, conta Val.
As pescarias aconteciam no começo da manhã e também de tarde, mas as “aulas” não terminavam quando elas saíam da represa. “Depois de recolher a rede, farta de peixe, era hora de levar pra casa e limpar tudo, fazer o nosso estoque para vender. Também tinha que dormir cedo. No dia seguinte, era hora de recomeçar”, diz Val. Quando começou a se sentir segura para enfrentar o barco sozinha, Val tirou sua carteira de pescadora profissional e decidiu deixar de vez os salões de beleza. Dulce se orgulha de ver a amiga há tantos anos colocando em prática o que aprendeu nos dias de imersão na Represa de Três Marias. “Agora ela pesca que nem eu, e eu gosto de ver a satisfação dela quando volta com o barco cheio. Viver do que a natureza nos dá”. Já Valdecina tem certeza de que nunca irá esquecer o gesto da amiga no momento em que mais precisou. “Me sinto segura nas águas da represa. Deve ser porque aprendi a desbravar tudo isso com o carinho de outra mulher segurando a minha mão. Desse jeito a gente não tem medo de nada, a gente reinventa quantas vezes for preciso”, conclui.
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