Instituto Guaicuy

Pescadoras e pescadores da Represa de Três Marias temem novos prejuízos com a construção de usinas fotovoltaicas da Cemig

27 de outubro, 2023, por Wesley Costa

A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) planeja construir até 2026 quatro usinas solares flutuantes nas hidrelétricas sob a sua gestão, incluindo a de Três Marias. 

Com planos de otimizar a produção de energia elétrica na represa de Três Marias, a Cemig anunciou a instalação de 2 Usinas Fotovoltaicas Flutuantes (UFF) no espelho d’água do reservatório. O início das obras está previsto para o final de 2024, enquanto as operações devem iniciar  em 2026.

Mas a instalação das placas solares têm causado medo nos profissionais da pesca que utilizam a Represa de Três Marias. O receio é que a usina flutuante traga prejuízos para a saúde das águas e da vida aquática, e afete, mais uma vez, as pescadoras e os pescadores que já sofrem os efeitos do rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, da Vale, ocorrido em 2019. 

Implantação das Usinas Solares da Cemig

Em dezembro de 2021, a CEMIG inaugurou a primeira Usina Fotovoltaica de Três Marias de Geração Distribuída (GD). Esta unidade conta com mais de 5.000 painéis solares instalados em terra e foi a primeira de uma série de usinas que estão em desenvolvimento pela Companhia. 

Além desta, a Cemig pretende construir outras duas usinas solares na Represa de Três Marias, mas essas usinas serão flutuantes, ou seja, os painéis solares ficarão em cima do espelho d’água. O projeto de hibridização da produção energética pela empresa abrange a combinação de duas fontes energéticas diferentes, permitindo o melhor aproveitamento dos recursos. No caso de Três Marias essas duas fontes de energia são a água represada,  utilizada para a produção de energia através da Usina Hidrelétrica, e o sol que, por meio das placas solares da Usina Fotovoltaica, tem a radiação convertida em eletricidade. 

Imagem: Reprodução Câmara Municipal de Três Marias (YouTube)

Carlos Caldas, Gestor desse projeto da Cemig, participou de uma reunião com a Câmara de Vereadores de Três Marias no início de setembro, e apresentou o plano de instalação da Usina Fotovoltaica Flutuante na represa. Carlos exibiu um mapa com as dimensões do reservatório e a área de ocupação das placas solares no espelho d’água. Segundo o gestor do projeto, a UFF vai ocupar uma área de 0,11% da represa de Três Marias, em frente ao terreno de propriedade da Cemig. 

Nesta reunião, o representante da Cemig afirmou que a implantação dos painéis solares não vai prejudicar as atividades de pesca na região, e que também não haverá restrição de utilização da represa, exceto na área de segurança da usina flutuante. 

Imagem: Reprodução Câmara Municipal de Três Marias (YouTube)

Segundo Carlos, o início das obras está previsto para dezembro de 2024, e o início da operação está previsto para janeiro de 2026. 

Possíveis impactos na pesca 

Desde que as instalações foram anunciadas, o medo tomou conta, novamente, das pescadoras e dos pescadores que utilizam as águas da represa de Três Marias. Isso porque as atividades relacionadas à pesca, ao turismo e ao lazer na região sofreram um grande impacto após o rompimento da barragem da mineradora Vale, em 2019. 

Conforme o Dossiê de Danos das Regiões 4 e 5, documento elaborado pelo Instituto Guaicuy que apresenta dados sistematizados e analisados dos prejuízos derivados do desastre-crime, o rompimento da barragem trouxe a má fama do peixe e a insegurança de utilização das águas do reservatório, prejudicando os modos de vida e a economia das pescadoras e dos pescadores, e de outros profissionais do setor da pesca que tiram seu sustento das águas da represa. O medo dessas pessoas, que já são atingidas, é que a instalação da usina flutuante traga novos danos e prejuízos para a região. 

No dia 3/10, profissionais da pesca participaram de uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para debater os problemas da pesca no estado, com foco para a instalação dos painéis solares da Cemig no espelho d’água da Represa de Três Marias. Na reunião não houve a participação de representante da Companhia, o que foi muito criticado pelos participantes, e várias foram as manifestações contrárias à instalação das usinas fotovoltaicas.

De acordo com as pescadoras e os pescadores presentes, a instalação das placas solares flutuantes pode trazer prejuízos para o ecossistema da represa, como o bloqueio da luz solar que pode prejudicar a saúde das águas, e a poluição provocada pela limpeza rotineira dos painéis. 

O senhor Norberto dos Santos, pescador de Três Marias, participou da audiência pública. Ele é um profundo conhecedor das águas da represa e assistiu, aos 11 anos de idade, à construção da barragem. O pescador falou do temor de que a limpeza das placas solares traga uma nova onda de poluição e mau cheiro na represa. “Na terra, a placa solar tem que ser lavada a cada 3 meses com detergente, e lá na água ela tem que ser lavada com 6 meses. E esse detergente que lava essas placas num diâmetro de 140 hectares vai descer para ali (para a água) também e vai ajudar a estimular mais ainda aquele mau cheiro que sai daquela água”, afirmou.  

Imagem: Reprodução Assembleia Legislativa de Minas Gerais (YouTube)

Assista na íntegra a audiência pública do dia 3/10. Clique aqui! 

Conheça a história da represa de Três Marias  

A Usina Hidrelétrica (UHE) de Três Marias começou a ser construída em 1957 e foi a primeira grande obra da Cemig. A represa é abastecida com as águas do Rio São Francisco, do Rio Paraopeba e de outros rios menores, como o Rio Indaiá. O reservatório da usina possui uma área de 1.054,6 km² e conta com 6 unidades de geração de energia. As operações da hidrelétrica começaram em 1962. 

A represa de Três Marias foi o primeiro grande empreendimento hidráulico de múltiplas finalidades realizado no Brasil. Além da geração de energia elétrica, a represa é utilizada para a regularização da vazão e melhoria na navegabilidade do Rio São Francisco, para a  irrigação de plantações, e para a piscicultura e pesca. 

O setor pesqueiro da represa envolve inúmeros profissionais e movimenta a economia da região. As atividades são variadas e vão desde a pessoa que tece as redes até a pessoa que fileta e empacota os peixes. Além disso, a pesca e a utilização das águas da represa para o lazer influenciam diretamente o turismo e, consequentemente, a economia dos municípios e comunidades banhadas pelo reservatório. 

O debate continua 

Uma nova audiência pública na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da ALMG foi marcada para o dia 30/10. Na reunião serão debatidos os possíveis impactos no meio ambiente e na pesca causados pela implantação dessas usinas flutuantes na represa de Três Marias pela Cemig.

Saiba mais sobre a Audiência Pública do dia 30/10 sobre a instalação das UFFs aqui!

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