Na beira do rio senta o menino. A mãe, atenta, observa o filho molhando os pés na água, enquanto estende uma toalha. É dia de piquenique. O pai, sentado à margem, prepara a vara para a pesca: “hoje eu garanto o peixe do almoço”, grita para a esposa.
Na beira do rio um senhor cumprimenta o vizinho: “bão?”. Ele chega para apreciar a vista. No meio do rio um barquinho. Pescadoras e pescadores lançam a rede. Tem curimba, dourado, pacamã, tucunaré.
Na beira do rio, um domingo normal.
Era assim até o dia 25 de janeiro de 2019, data em que a lama de rejeitos entrou no curso do Rio Paraopeba. O rompimento da barragem de propriedade da mineradora Vale, em Brumadinho, causou danos ambientais, sociais e econômicos a milhares de pessoas.
A reparação socioambiental está no acordo assinado em fevereiro de 2021, e prevê, inicialmente, R$ 5 bilhões para a recuperação do meio ambiente, e é o único que não estipula um teto máximo de gastos para a mineradora.
É obrigação da Vale arcar com os custos e realizar a recuperação. Para isso, existe o Plano de Reparação Socioambiental da Bacia do Paraopeba (PRSABP) e Lago de Três Marias.
Entretanto, as pessoas atingidas não foram consultadas para a construção desse Plano e existem muitas dúvidas. Assim, as Assessorias Técnicas Independentes (ATIs) – Guaicuy, Nacab e Aedas – estão realizando oficinas nas comunidades. “O Plano de Reparação que Queremos” é um espaço de debate e troca de vivências com quem está na luta pela reparação.
Nas áreas 4 e 5, o Guaicuy está indo a campo com a proposta do espaço de escuta e diálogo. Nas oficinas, as pessoas atingidas relembram como era a rotina e a relação com o rio antes do rompimento da barragem.
“Foi o rio que me trouxe pra cá. Vir morar aqui depois que me aposentei era um sonho, queria relaxar e pescar. Hoje, não posso mais comer peixe, não posso usar o meu barco. Antes era uma paz, hoje tomo remédios para dormir”, lamenta Onofre, morador de Encontro das Águas há duas décadas. Aos 66 anos ele teme não ver o Paraopeba limpo de novo.
O poema foi construído pela analista da equipe de direitos do Instituto Guaicuy Juliane Oliveira a partir dos relatos das pessoas atingidas durante a oficina. O objetivo dos encontros é informar às comunidades o que está acontecendo dentro do processo judicial sobre a reparação socioambiental, bem como consultá-las sobre esse processo. A estruturação do Plano apresentado pela Vale consiste em:
A empresa contratada pela mineradora para executar essa proposta chama Arcadis. De acordo com a terceirizada, a reparação terá como referencial a situação anterior ao rompimento da barragem e envolve ações como a recuperação do Rio Paraopeba, remoção de rejeitos, descomissionamento da barragem, melhora na qualidade de água, do ar, dos peixes, entre outras.
Além de entender mais sobre o que está sendo proposto, as pessoas puderam opinar sobre o que consideram importante para a reparação. “A proposta é que as informações e sugestões colhidas nas oficinas, estejam em um único documento construído pelas três ATIs para ser encaminhado às IJs. Com isso, esperamos que alguma medida seja tomada no sentido de garantir no Plano a inclusão das reivindicações e anseios apresentados pelas pessoas atingidas”, pontua Hermano Santos, da equipe de Saúde e Assistência Social do Instituto Guaicuy.
As oficinas presenciais aconteceram entre os dias 18/06 e 25/06 em Encontro das Águas (Curvelo), Ribeiro Manso (Felixlândia) e Frei Orlando (Morada Nova de Minas). Além disso, um dos encontros que ainda terá a data divulgada será virtual e aberto a todas as pessoas atingidas da bacia do Paraopeba e regiões assessoradas pelo Guaicuy no rio São Francisco e no lago de Três Marias.
Tem alguma dúvida? Fale com o Guaicuy pelo (31) 97102-5001!
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