Segundo conteúdo da série “Tecendo redes: saúde e assistência social”, esse texto apresenta a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) que pode ser acionada pelas pessoas atingidas de Antônio Pereira.
Por Ellen Barros
Aumento do consumo de álcool e outras drogas; do sofrimento psíquico; de traumas emocionais; de casos de depressão; autoextermínio e tentativas de autoextermínio; de todos os tipos de violência, especialmente violência doméstica; surtos psicóticos e efeitos psicossomáticos. Esta lista avassaladora é o retrato da situação da saúde mental das populações atingidas por barragens em Minas Gerais e, infelizmente, essa realidade não é diferente em Antônio Pereira, distrito de Ouro Preto atingido pelo descomissionamento da barragem Doutor, da Vale.
De acordo com a psicóloga Marlene Reis, que atua no Posto de Saúde da comunidade, a partir dos dispositivos utilizados pela equipe para o cuidado com a saúde mental das/os moradoras/es de Antônio Pereira, é possível observar o aumento do adoecimento mental em decorrência dos impactos da exploração das mineradoras no território. “Podemos destacar a preocupação, o medo, a descrença, a desvalorização, o pânico, a depressão, o suicídio, os conflitos familiares entre outros”, relata Marlene.
A publicação “Saúde Mental e Atenção Psicossocial para Populações Afetadas por Barragens”, feita em parceria entre a Fundação Oswaldo Cruz e o Ministério da Saúde, destaca que a situação de pessoas deslocadas compulsoriamente, como no caso das famílias removidas da zona de autossalvamento (ZAS), é particularmente vulnerável, “o impacto à saúde mental se agrava quanto mais disruptivo e estressante se der o processo” .
Existem diversas evidências sobre o impacto negativo do rompimento de barragens na saúde mental, a curto, médio e longo prazos, e não restritas a pessoas adultas. Tais efeitos podem ocorrer em comunidades onde o evento crítico nem chegou a acontecer, ou ainda em territórios vizinhos que testemunharam o colapso à distância. (FIOCRUZ; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2022, p. 13).
A população de Antônio Pereira está nessas duas situações, uma vez que testemunhou de perto e vivenciou os danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, em 2015 e, desde 2019, convive com o medo do rompimento e danos causados pelo descomissionamento da barragem Doutor. A reabilitação da saúde das pessoas atingidas é obrigação de quem gerou o dano e faz parte do que se entende hoje por reparação integral.
Para Meire Reis, a saída é o empoderamento das pessoas atingidas por meio da potencialização do próprio lugar de fala, assim, essas pessoas terão condições “para que possam resgatar a união, os vínculos, a história, a liberdade e, consequentemente, a saúde coletiva”.
Não é atoa que a palavra liberdade aparece no contexto da atenção e cuidado com a saúde mental. No Brasil, a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) é integrada ao SUS e estabelece os pontos de atenção para atendimentos de pessoas com sofrimentos e transtornos mentais, incluindo efeitos nocivos do abuso de álcool e outras drogas. Essa rede é tecida a partir dos direitos à liberdade, ao convívio social e à saúde integral, e se opõe, portanto, ao ultrapassado modelo manicomial, de privação de liberdade, que deixou marcas profundas na história de Minas Gerais e do país.
Para fazer valer esses direitos, é fundamental conhecer essa rede e acioná-la sempre que necessário. Pensando nisso, o Instituto Guaicuy, Assessoria Técnica Independente de Antônio Pereira, fez um levantamento dos órgãos e instâncias locais de promoção e atenção à saúde mental da população. Confira:
Disque Direitos Humanos (Disque 100)
O Disque 100 é um serviço de informações sobre Direitos Humanos. Qualquer pessoa pode acessar o serviço, não precisa ter crédito no telefone.
Quando ligar? Disque 100 sempre que precisar denunciar qualquer situação de violação de direitos humanos.
Horário de funcionamento: 24 horas (todos os dias)
Telefone: 100
No distrito de Antônio Pereira, o trabalho de cuidado em saúde mental é realizado na Unidade Básica de Saúde e conta com uma equipe de dois psicólogos, uma assistente social, um médico psiquiatra e também com a equipe de estratégia de saúde da família. No posto de saúde são realizados acolhimentos, consultas, acompanhamentos e encaminhamentos aos outros dispositivos da rede. Além dos atendimentos individuais, o posto conta com grupos de apoio à adolescentes e crianças, ao grupo de gestantes e de hipertensos.
Quando procurar? Sempre que sentir necessidade de acolhimento psicossocial, em caso de sofrimento emocional ou transtorno psíquico. Os atendimentos são feitos através de agendamentos prévios e também pela demanda espontânea, quando a pessoa precisar de atendimento imediato.
Horário de funcionamento: O posto funciona de segunda a sexta-feira, das 7h às 16h. O acolhimento para agendar consulta é sempre às 8h da manhã. No período da tarde apenas casos mais urgentes podem ser atendidos sem agendamento prévio.
Endereço: Travessa da Lagoa, n. 65 (próximo à quadra desportiva)
Telefone: (31) 3553-8335
É um grupo terapêutico de acolhimento e apoio psicossocial dos moradores e moradoras do distrito, cuja tarefa é realizar rodas de conversa para o cuidado em saúde mental da comunidade.
Quando procurar? Sempre que quiser participar de um espaço coletivo de apoio à saúde mental e partilha de experiências específicas da comunidade de Antônio Pereira.
Horário de funcionamento: Todas as terças-feiras, das 13h30 às 15h30.
Endereço: Posto de Saúde, na Travessa da Lagoa, n. 65 (próximo à quadra desportiva)
Telefone: (31) 3553-8335
Os CAPS foram criados para substituir os antigos hospitais psiquiátricos, onde as pessoas viviam em privação de liberdade. Por isso adotam novas abordagens para o acolhimento e tratamento de pessoas com sofrimento ou transtorno mental grave e persistente, ou ainda com necessidades decorrentes do uso de álcool, crack e outras drogas. Em Ouro Preto, essa rede é tecida em três frentes de atendimento, são elas:
A unidade é responsável pelo atendimento de pessoas com problemas psiquiátricos graves. O objetivo é a recuperação da saúde mental e a integração da/o paciente com sua família e comunidade.
Quando procurar? Em caso de intenso sofrimento psíquico, sempre que houver crises psiquiátricas e/ou pensamentos repetitivos de autoextermínio. A pessoa pode ir sozinha ou acompanhada.
Horário de funcionamento: 8h às 18h de segunda a sexta
Endereço: Rua Tomé de Vasconcelos, n° 131 – Água Limpa
Telefone: (31) 3559-3266
É responsável por oferecer atendimento diário a pacientes que fazem um uso prejudicial de álcool e outras drogas, permitindo o planejamento terapêutico dentro de uma perspectiva individualizada de evolução contínua.
Quando procurar? Em caso de intenso sofrimento psíquico provocado pelo uso abusivo de álcool e/ou outras drogas. A pessoa pode ir sozinha ou acompanhada.
Horário de funcionamento: 8h às 18h de segunda a sexta
Endereço: Rua Nossa Senhora do Parto, N°50 – Bairro Padre Faria
Telefone: (31) 3552-6317
Quando procurar? Sempre que a criança ou adolescente precisar de atendimento relacionado a transtornos mentais, transtorno do espectro autista, psicoses, neuroses graves e/ou, por sua condição psíquica, estão impossibilitadas/os de manter ou estabelecer laços sociais.
Horário de funcionamento: 8h às 18h de segunda a sexta
Endereço: Rua Dom Helvécio, N°429 – Cabeças
Telefone: (31) 3552-3165
Em Ouro Preto, além dos CAP’s, também compõem a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), os leitos de retaguarda da saúde mental na Santa Casa da Misericórdia e dispositivos como SAMU e UPA. Veja mais sobre esses locais na matéria: “Saúde é direito humano universal”.
O que você achou deste conteúdo?