“Sou Dulcilene, pescadora. Meu rio é vida, prosperidade e felicidade”, contou a moradora de Barra do Paraopeba (Felixlândia) na segunda Roda de Conversa “Mulheres na Busca por Reparação”, na última terça-feira (29). A roda de conversa de mulheres, promovida pelo Instituto Guaicuy, reuniu atingidas pelo rompimento da barragem da Vale que moram em Felixlândia, Três Marias e São Gonçalo do Abaeté.
Esses encontros têm o objetivo de mobilizar afetos, acolher, trocar informações, fomentar a participação informada e manter a mobilização das mulheres em busca por direitos pela reparação justa.
Foram feitas as perguntas “Quais os danos?” e “Quais os prejuízos sentidos após o rompimento?”. A partir delas, as mulheres foram interligando diferentes vivências, das mais diversas comunidades presentes. Elas apontaram medo, insegurança, solidão, problemas na pele, dentre outros.
Cleusa Brito, nos conta que a insegurança e as incertezas transformam seu cotidiano. “Em relação à insegurança, quando me mudei, vim com a certeza de que estava vindo pro melhor lugar no mundo”. Segundo ela, raramente vai à beira do rio, tem medo de comer os peixes, fica preocupada. Do mesmo modo, Cleusa Brito, de São José do Buriti (Felixlândia), questiona: “Será que a gente vai conseguir alcançar o objetivo da gente ou isso vai ser interrompido em relação a esse desastre da Vale?”
Valquíria Lisandro, da Ilha do Mangabal (Felixlândia), lembra que os danos não são apenas físicos e financeiros, são também mentais: “Nos prejudicaram na nossa mente, quem vai reparar a nossa mente? Quem vai reparar a nossa amiga, que tem vergonha de usar um short (por conta das manchas que apareceram na sua pele)?”
Quem vê o florescer das árvores, muitas vezes não sabe das duas raízes. Embaixo da terra, elas sustentam e alimentam tudo que despontam sobre a superfície. Durante a roda, as mulheres apontaram que são como as árvores, crescem quando tem raízes fortes.
Para fortalecer o entendimento de que a mulher deve estar presente na luta pela reparação integral, foi feita uma dinâmica de imagem-árvore. A ideia foi a de representar as mulheres atingidas e suas lutas. Neste momento, elas se expressaram afirmando:
“Eu vejo a mulher como um pilar. Se esse pilar desaba, a família também desaba. Todos os outros que estão ao redor dela, vão ao chão. Enquanto ela está de pé, tudo se encaminha. Quando vem a ruína, tudo desmorona. Muitas pessoas dizem que é sexo frágil, mas como um pilar, ela é forte”, afirma Miriam Souza, da comunidade Beira Rio (São Gonçalo do Abaeté).
Chegando no topo das árvores, a imagem-folha foi se transformando na representação da reparação, onde as mulheres apontaram: Trabalho, garantia de não repetição do crime-desastre, atrativos para os turistas, coisas boas para a comunidade, reparação coletiva e individual.
Como forma de continuar os laços de fortalecimento das mulheres na luta, o grupo decidiu se encontrar periodicamente. A ideia da roda de conversa de mulheres é trazer sempre assuntos pertinentes à busca por reparação.
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