O dia 25 de janeiro marca os quatro anos do rompimento da barragem da Vale, ocorrido em janeiro de 2019 e que matou 272 pessoas. Além da perda humana, atingiu comunidades ao longo da bacia do Paraopeba, região da represa de Três Marias e comunidades do São Francisco localizadas em Três Marias e em São Gonçalo do Abaeté.
A data contou com ações em diversos locais e que contaram com a presença de representantes das pessoas atingidas da bacia do Paraopeba e do Rio Doce, organizações de movimentos sociais e das Assessorias Técnicas Independentes (Guaicuy, Aedas e Nacab).
Além desses, o momento também teve a presença de diversas autoridades, parlamentares e do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que anunciou a criação do Conselho Nacional de Política Mineral, a fim de impedir que crimes como os rompimentos em Mariana e Brumadinho voltem a acontecer. “Isso vai permitir melhorarmos a coordenação e implementação das políticas públicas destinadas ao desenvolvimento do setor, garantindo o aperfeiçoamento dos mecanismos legais de segurança”, destacou.
Os atos que marcaram os quatro anos do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho seguiram a programação da IV ROMARIA PELA ECOLOGIA INTEGRAL A BRUMADINHO: memória, justiça e esperança, que teve como objetivo denunciar também as violações de direitos sofridas pelas comunidades atingidas desde o rompimento. Além disso, foi um espaço para lembrar da esperança por um mundo com mais respeito e com dignidade para todas e todos.
Às 7h30 aconteceu uma acolhida na Matriz de São Sebastião e uma coletiva de imprensa, que contou com a presença de movimentos sociais, representantes das pessoas atingidas e ATIs.
Logo em seguida, aconteceu a missa no Centro da cidade guiada por Dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte. Participaram do momento centenas de pessoas que seguem buscando por respostas.
O ato foi encerrado por uma caminhada em memória das vítimas e para exigir que todos e todas as pessoas atingidas tenham direito a uma reparação justa dos danos sofridos.
Em Belo Horizonte a data foi marcada pela presença de pessoas atingidas em atos na Faculdade de Direitos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para discutir sobre o futuro da mineração no Brasil e para cobrar respostas da Justiça.
No fim da tarde, aconteceu uma reunião com o Excelentíssimo Senhor Dr. Murilo Silvio de Abreu, responsável pelo processo civil, em que foi solicitado pelos representantes que a reparação das pessoas atingidas seja feita de forma integral e que o judiciário trabalhe pela garantia do direito à reparação dos danos individuais.
Nas faixas carregadas pelas pessoas atingidas estavam os pedidos de acesso à água e a medidas emergenciais para a região 5, bem como dizereres sobre a não prescrição de crimes que envolvem injustiças, o acesso a medidas emergenciais e o direito ao Programa de Transferência de Renda (PTR) para a região 5.
Rosângela Maria, atingida da comunidade de Angueretá, reforça a importância da união das pessoas atingidas na busca por direitos. “Hoje nós estamos de luto e luta por conta das 272 vidas que foram ceifadas pela Vale. Vamos ter união, vamos lutar, vamos gritar, vamos pedir vamos apoiar essa nova equipe que está do nosso lado para nos ajudar. O nosso PTR, muita gente ainda não recebeu, queremos a nossa reparação individual não para amanhã, mas para ontem. Que Deus fortaleça nossos ministros para cobrar dessas criminosas Vale e Samarco que fizeram toda essa tragédia”.
“O sofrimento dos atingidos da área 4 e da área 5 é tão violento quanto o que a Vale faz todos os dias nas nossas vidas”, diz Eliana Marques, atingida de Cachoeira do Choro, em Curvelo.
“Nossa comunidade foi atingida de uma forma muito forte, mesmo que a Vale diga que não. Com a notícia do rompimento, tive cancelamentos de reservas da minha pousada, os pescadores perderam a renda, os agentes de turismo também foram afetados, os agricultores nem se fala. Há um desgaste mental muito grande, eu fui uma vítima dessa. Vivemos o dilema de ter que pagar conta e não ter com o que pagar. Por isso o dia de hoje é de luta pra região 5 ser reconhecida, estamos pedindo nossa dignidade de volta”, conta Tarcílio de Almeida, atingido de Morada dos Peixes, em São Gonçalo do Abaeté
“25 de janeiro de 2023
Excelentíssimo Ministro de Minas e Energia, Sr. Alexandre da Silveira, por favor, olhe por nós regiões 4 e 5 (Curvelo e Pompéu). Precisamos de alguma reparação.
Mataram nossos rios, mataram nossos peixes e com isso tiraram nossa paz, cada dia morremos um pouco. A justa reparação não trará as vidas de volta mas fará com que as pessoas não tirem suas próprias vidas por não enxergarem uma luz no fim do túnel, pois a criminosa Vale não admite que somos atingidos.
Pedimos uma atenção especial, não deixe esse crime impune, não podemos ficar sem reparação.
Pedimos:
Comunidades de Pompéu e Curvelo”
Saiba mais em: https://guaicuy.org.br/desastre-vale-quatro-anos/
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