A insegurança em relação ao consumo seguro da água e de peixes nas comunidades do entorno da Represa de Três Marias e do Baixo Paraopeba foi a principal questão trazida pelas pessoas atingidas durante a roda de conversa online promovida pela equipe Socioambiental do Instituto Guaicuy, no último sábado (29/08).
Participaram cerca de 33 pessoas atingidas dos municípios de Curvelo, Pompéu, São Gonçalo do Abaeté, Felixlândia, Morada Nova de Minas, Biquinhas, Paineiras, Martinho Campos, Abaeté e Três Marias.
Os participantes levantaram dúvidas como:
É seguro comer o peixe, entrar na água, plantar?
É seguro usar a água?
Quando teremos resultado de análise?
É seguro tomar a água dos poços do subsolo? (água da Copasa)
É seguro comer o peixe de Três Marias?
É seguro respirar perto da lama seca?
Ao longo da conversa, a equipe do Guaicuy apresentou como pretende trazer respostas seguras para essas perguntas, mostrando a metodologia das análises ambientais nas comunidades da área 4 (Pompéu e Curvelo) e da área 5 (São Gonçalo do Abaeté, Felixlândia, Morada Novas de Minas, Biquinhas, Paineiras, Martinho Campos, Abaeté e Três Marias).
As análises serão feitas por laboratórios escolhidos pelo Guaicuy, certificados pelo INMETRO. São laboratórios que não tem vínculos com a mineradora Vale.
O analista ambiental Rodrigo Lemos explicou que, com o rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, o Rio Paraopeba transportou os rejeitos com alta velocidade. Lemos mostrou como o rejeito se distribui no Rio de acordo com o seu curso (superior, médio e inferior), e como os diferentes trechos fluviais interagem com esses materiais, retendo e transportando os sedimentos.
“Quando chega no Baixo Paraopeba, o rio já está mais largo, com uma dinâmica mais lenta e tem tendência de deposição desse material nas áreas marginais que são áreas muito usadas para cultivos”, disse. Lemos lembrou das inundações que aconteceram em 2019 e 2020, fazendo com que parte do material que estava no Rio fosse depositado nas suas margens.
Por essas diferentes formas de impacto, foram definidas 6 grandes regiões de interesse para a realização das análises nos territórios das áreas 4 e 5. São elas: Rio Paraopeba à montante do reservatório de Retiro Baixo, reservatório de Retiro Baixo, Rio Paraopeba à jusante do reservatório de Retiro Baixo, o reservatório de Três Marias braço do Rio Paraopeba, reservatório de Três Marias, Rio São Francisco à jusante de Três Marias.
O Instituto Guaicuy vai fazer 4 análises em conjunto com as pessoas atingidas:
Análise em solos que tem influência direta do rio e do reservatório. Em relação aos sedimentos, a coleta será iniciada nos sedimentos que estão na margem do rio e do reservatório e, depois, será feita a coleta no fundo desses locais que envolve um procedimento mais complexo. Serão monitorados diversos parâmetros, mas principalmente a presença de ferro, alumínio e manganês.
As análises de água subterrânea irão iniciar em lugares próximos ao rio que utilizam aquela água para consumo humano. Além de analisar a água dos poços e cisternas, também será feita a análise da água servida, ou seja, da água que sai da torneira. Essa foi uma demanda principalmente da comunidade de Cachoeira do Choro que foi incluída nas análises propostas pelo Guaicuy.
As análises de água superficial serão feitas em 28 pontos. A cada mês será feita nova coleta nesses pontos, o que não impede que novos pontos sejam adicionados a partir de demandas das comunidades.
As análises serão focadas nas alterações das comunidades aquáticas a partir do rompimento da barragem. Uma das principais preocupações dos técnicos do Guaicuy é em relação a presença de metais pesados neste ambiente. Bernardo Beirão, analista ambiental, ressaltou que o metal pesado vai se acumulando ao longo da cadeia, ou seja, um peixe que vai comendo as plantas do rio, vai acumulando metal dentro dele. “E tudo o que acumulou de metal pesado nesse peixe vai acumular dentro de quem comeu esse animal, e não vai causar doença de um dia para o outro. Se você vai comendo aquele peixe com metal pesado, está acumulando essas substâncias em seu organismo e daqui alguns anos vai ter problemas no fígado, na cabeça e em vários órgãos”, comentou. Para saber se há metais pesados no peixe ou não, será feita a análise adequada. “Queremos responder o mais rápido possível se pode comer o peixe ou não. Infelizmente não temos essa resposta, mas estamos empenhados para poder entender logo”, ressaltou Beirão.
Além das análises apresentadas acima, também é possível que sejam incluídas novas análises. As comunidades atingidas podem propor questões específicas para análise, bem como os técnicos do Guaicuy podem avaliar que são necessários novos diagnósticos pontuais ou sistemáticos.
Os resultados de todas as análises estarão disponíveis em relatórios e serão repassados para as comunidades atingidas por meio de rodas de conversa. A princípio, as rodas vão acontecer a cada dois meses, mas a frequência pode ser maior de acordo com a demanda das pessoas atingidas.
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