A Comissão de Pessoas Atingidas de Paraíso dos Cisnes realizou no dia 21 de setembro a I Ação Socioambiental da Reparação — proposta que nasceu de conversas durante as reuniões do grupo. A primeira ideia foi a organização de uma atividade de limpeza em uma área de Felixlândia, às margens da Represa de Três Marias, que sofre com resíduos deixados por parte da população local e por visitantes e com a falta de ações e cuidado do poder público.
A iniciativa partiu de Silvana Gomes da Rocha, uma das membras da Comissão, que trabalha com pesca e se incomoda com a grande quantidade de lixo na água, como latinhas de bebida e pacotes de biscoito. Isso demonstra preocupação com a preservação ambiental na região, aspecto essencial, especialmente no contexto de necessidade de reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho.
A Comissão não apenas abraçou a ideia, mas a expandiu: o que seria, a princípio, um simples mutirão, transformou-se em um dia inteiro de atividades, com gincanas, almoço comunitário e produção de placas de sinalização para sensibilização ambiental. O evento fortaleceu o vínculo entre participantes e promoveu aprofundamento na discussão sobre a importância de se preservar o meio ambiente.
Com a participação de cerca de 30 pessoas, incluindo representantes de outras Comissões, como SG Salto, Praia das Garças e Atingidos do Bagre, a Ação Socioambiental da Reparação se consolidou como um marco importante do protagonismo das comunidades atingidas e da importância da participação popular. Durante a manhã, as pessoas presentes debateram sobre o problema de acúmulo de lixo às margens da represa e a necessidade de envolvimento da comunidade na manutenção da limpeza e na cobrança do poder público. Posteriormente, as pessoas realizaram coleta de resíduos sólidos e limpeza na área, que sofre com o descarte inadequado de materiais. A ação de limpeza, que também contou com a participação de crianças, foi mais que uma atividade prática, mas um gesto simbólico de cuidado com o meio ambiente. Diversos sacos de materiais foram recolhidos e entregues à Rosângela Cristina Pereira, que trabalha junto à associação local de reciclagem, garantindo a destinação correta.
Ela também liderou uma roda de conversa sobre reciclagem. Um dos pontos de debate foi a relação entre a sociedade e o meio ambiente, refletindo sobre como a natureza é cíclica e a ideia de progresso é linear, levando a um acúmulo de lixo sem fim. Além disso, Rosângela abordou a importância desse tipo de material para geração de renda e sustento das famílias que trabalham com recicláveis. A separação correta dos resíduos auxiliaria a coleta e geraria segurança para catadoras e catadores, que precisam se arriscar para identificar os materiais e ainda sofrem muito preconceito.
Para finalizar a programação, mais ação: as pessoas presentes produziram e pintaram várias placas de conscientização e sensibilização ambiental para serem fixadas na área da represa. A sinalização representa um lembrete duradouro do compromisso da comunidade com a preservação.
Anilson Carlos da Silva, conhecido como Cacá, faz parte da Comissão Paraíso dos Cisnes e também foi um dos organizadores da I Ação Socioambiental da Reparação. Para ele, o dia 21 de setembro foi marcante para todo mundo que participou pois ajudou a tornar visível uma questão que muitas pessoas não se dão conta no dia a dia e a entender a importância de buscar alternativas para solucioná-la.
O problema é bem maior do que as condições atuais de ação da Comissão, mas, para Cacá, o evento foi positivo porque trouxe uma repercussão muito boa e pode inspirar outros grupos. Além disso, poder agir em prol da comunidade trouxe para ele um sentimento de satisfação e grandeza. Silvana também considerou que o evento foi ótimo, especialmente pela participação das crianças, que se divertiram muito participando.
A atividade proporcionou, durante toda sua programação, muitas trocas e reflexões valiosas sobre a necessidade de um olhar mais sustentável, enfatizando a interdependência entre o meio ambiente e as pessoas. A presença de participantes de outras Comissões e da população também foi um destaque, mostrando como é potente a luta coletiva, seja na busca pela reparação, seja em outras pautas de interesse social.
Para a supervisora territorial do Guaicuy, Shara Borges, ações como essa são importantes principalmente porque dão concretude e representam o fruto da organização social das pessoas, do quanto elas estão engajadas na luta pela reparação justa e integral, de forma muito mais ampla. Ela também destacou a relevância do visão local: “É um trabalho que as Comissões vêm fazendo, não só Paraíso dos Cisnes, mas diversas outras Comissões com as quais a gente trabalha, de voltar o olhar para o seu lugar, para própria comunidade, e entender quais são seus desafios, demandas e potencialidades, mantendo um diálogo muito mais próximo com as pessoas da comunidade”.
Além disso, a I Ação Socioambiental da Reparação reforçou a legitimidade da Comissão Paraíso dos Cisnes como instância representativa das comunidades atingidas. O momento não só fortaleceu os laços entre os grupos comunitários, mas mostrou que a luta por reparação é complexa, envolvendo dimensões econômicas, sociais e ambientais. A partir de agora, a Comissão busca fazer outras ações, como a construção de um espaço para descarte de resíduos que seja gerenciado pela prefeitura e a organização de novas edições do evento, buscando engajar ainda mais pessoas da comunidade e, principalmente, obter apoio do poder público para fornecer estrutura e potencializar cada vez mais as ações. “A natureza agradece, do jeitinho dela, mas agradece”, destaca Cacá.
Imagens: João Carvalho/Guaicuy
Paraopeba
7 de outubro de 2024
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