Instituto Guaicuy

Crime de Mariana completa seis anos de impunidade

5 de novembro, 2021, por Guaicuy

Crime de Mariana: 5 de novembro de 2015 ficou marcado na memória do país como o dia do rompimento da Barragem da Samarco/BHP Billiton, no município de Mariana (MG), um dos maiores crimes ambientais da História. 

O colapso ocorreu aproximadamente às 15h30, na barragem de Fundão, e liberou imediatamente mais de 40 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério de ferro, além de outros 16 milhões de rejeitos que continuaram escoando em seguida. A onda de rejeitos soterrou a comunidade de Bento Rodrigues, ceifando 19 vidas e desalojando centenas de famílias. O mar de lama tóxica também atingiu outras localidades e diversas comunidades rurais. 

Foto: Catarina Barbosa

Após percorrer dezenas de quilômetros, a avalanche de rejeitos atingiu o rio Doce, até desaguar no Oceano Atlântico. Este trajeto percorrido resultou em incontáveis danos econômicos, sociais e ambientais gravíssimos, além das vidas perdidas. Os prejuízos, incalculáveis, perduram até hoje, e projetam-se sobre o futuro da comunidade atingida, sem previsão de que terão um fim próximo.

Após seis anos do crime, os responsáveis ainda não foram devidamente responsabilizados e a população segue esperando indenização . Os atingidos não receberam nenhuma das casas prometidas pela Renova (representante da Samarco, Vale e BHP), a justiça segue prorrogando prazos a pedido da mineradora e o acordo de reparação será reformulado em fevereiro de 2022. 

O professor e membro da diretoria do Guaicuy, Marcus Vinícius Polignano, se pronunciou a respeito da impunidade em relação ao crime de Mariana, demonstrando indignação com o descaso com o qual o tema é tratado na justiça e pelas empresas responsáveis pelo rompimento. 

Confira, na íntegra, a fala do membro da diretoria do Guaicuy, Marcus Vinícius Polignano, sobre os 6 anos do rompimento da barragem de Mariana: 

Nós estamos completando agora seis anos do crime da Samarco na Bacia do Rio Doce. Samarco que na verdade é uma empresa VALE e BHP, e que teve uma das maiores consequências ambientais para a história do Brasil, para a história de Minas Gerais. Foi sem dúvida o maior crime ambiental da nossa história, e talvez um dos maiores do mundo, com certeza. Ao longo desses seis anos o que a gente viu foi, na verdade, um grande descaso traduzido aí por várias circunstâncias, onde milhares de atingidos ainda não foram reconhecidos, o rio continua poluído e contaminado, a comunidade de Bento Rodrigues, a primeira a ser atingida, menos de 150 moradias que até hoje não foram reconstruídas. É um descaso total. 

A justiça se mostra lenta e vamos dizer até injusta, com todos os danos provocados. Até hoje as pessoas responsáveis não foram punidas, ou seja, não houve ainda responsabilização criminal do processo. É um absurdo, porque elas estão sendo responsabilizadas por danos de enchentes, e não pelo rompimento da barragem. Então tudo isso demonstra o quanto é forte toda essa estrutura minerária no sentido de não atender às suas responsabilidades, no sentido de não responder à criminalidade dos seus atos e principalmente a fragilidade dos atingidos de todo esse processo. 

A lógica que a gente percebe é de se dar tempo ao tempo, para que se enfraqueça a força e a luta dos atingidos de um lado, e para que a natureza faça o trabalho de reparação natural do processo sem ter que investir dinheiro para reparação ambiental desse dano. Então seis anos, são seis anos que mostram exatamente o quanto é predatória essa política minerária do estado de Minas, o quanto essas empresas não assumem as suas responsabilidades, até do ponto de vista criminal e ambiental, e o quanto é preciso lutar por justiça para todos. 

E o que acontece hoje ainda no Rio Doce, ela se propaga também para o que está acontecendo na bacia do Paraopeba, e quiçá que não aconteça para outras bacias hidrográficas no estado de Minas Gerais. Então seis anos, ao mesmo tempo de luto, porque pessoas morreram ali também, um pesar por toda a perda ambiental, ecossistêmica que tivemos e um sentimento muito profundo de injustiça para com o ambiente, injustiça para com os atingidos, injustiça para com as gerações futuras que vão herdar essa precariedade e essa fragilidade ambiental e minerária ao longo da sua história. 

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