Instituto Guaicuy

Crise de dengue em Antônio Pereira tem vítima fatal

23 de fevereiro, 2024, por Ellen Joyce Marques

Na manhã de ontem, 22/02, um morador da Rua da Lagoa, em Antônio Pereira morreu em razão de um caso grave de dengue. Esta é a rua com maior incidência de pessoas com testes positivos para a doença no distrito, que é o epicentro da dengue em Ouro Preto/MG

Rua da Lagoa Foto: Léo Souza / Instituto Guaicuy

Até a última quarta-feira, 21/02, em Ouro Preto somavam-se 483 casos de dengue, desses, 382 são de Antônio Pereira. O distrito, que sofre os impactos do risco de rompimento e obras de descomissionamento da Barragem Doutor, da mineradora Vale, concentra 80% dos casos da doença no município. Apenas na Rua da Lagoa, próximo ao Córrego Água Suja, 38 pessoas testaram positivo para dengue, entre elas um idoso que veio a falecer na manhã de ontem, dia 22.

A trágica notícia reflete uma dura realidade. O distrito é polo da mineração em Ouro Preto, de onde riquezas exorbitantes são extraídas, mas tem pouco acesso às políticas públicas como limpeza urbana, saneamento básico e acesso a atendimentos de urgência e emergência em saúde. Dona Regina Ciriaca da Silva, 85 anos, moradora da Rua da Lagoa conta que seus netos e vizinhos estão com dengue, além de conhecer vários outros casos em todo o distrito. Ela afirma que esse é o primeiro ano com tantos casos de dengue no distrito. “Eu nunca tinha visto essa doença por aqui. Tem uns 60 anos que eu moro aqui. Nunca vi… Eles estão ‘esmazelando’ muito o Pereira”.

Regina e Clemente, moradores da Rua da Lagoa Foto: Léo Souza / Instituto Guaicuy

Parte significativa dos focos do Aedes aegypti está na chamada Zona de Autossalvamento (ZAS), onde imóveis de famílias removidas pela Vale, em razão do risco de rompimento da Barragem Doutor, encontram-se depredados. Casas detalhadas e a quantidade de entulho, aliada às chuvas de verão, é terreno propício para a proliferação do mosquito que transmite dengue, zika e chikungunya.

Casos de dengue por rua de Antônio Pereira

O Instituto Guaicuy, organização escolhida pela comunidade de Antônio Pereira para atuar como sua Assessoria Técnica Independente, continua a acompanhar de perto a situação da dengue no distrito. Por isso, participamos da reunião ordinária do Conselho Municipal de Saúde, realizada na última quarta-feira, dia 21/02. 

Na ocasião, a gerente de vigilância em saúde de Ouro Preto, Ana Paula Fietto, apresentou o cenário epidemiológico do município com foco em Antônio Pereira. Durante a apresentação foi possível observar que, ao todo, 69 ruas de Antônio Pereira têm pelo menos um caso confirmado de dengue. A Rua da Lagoa tem o maior número de pessoas doentes com dengue no distrito, somam-se 38, com um caso fatal. A Rua das Mercês é a segunda com maior índice de testes positivos para a doença, com 32 casos. Como é possível observar no gráfico abaixo, as ruas Projetada 15, Lapa, Vereador Irineu Faria, Projetada 12, Timbopeba, C, B, Água Limpa e Tabuleiro concentram entre 10 e 24 casos cada.

Infográfico: Gabriel Lage / Instituto Guaicuy

Um membro do Conselho Municipal de Saúde e um morador da Vila Residencial Antônio Pereira, presentes na reunião, questionaram sobre a efetividade das ações de combate ao mosquito no distrito e solicitaram maior atenção à situação da Estação de Tratamento de Esgoto da vila e dos imóveis de famílias removidas da ZAS, que estão sob responsabilidade da Vale. De acordo com o secretário de saúde de Ouro Preto, Leandro Leonardo de Assis Moreira, a mineradora já tem acesso às chaves de todos esses imóveis e, até hoje, dia 23/02, deve concluir a limpeza e remoção de focos do mosquito nessas localidades.

O que se espera da Vale

“Não teria como fazer uma medida preventiva?” indaga o senhor Geraldo Magela da Silva, integrante da Associação de Moradores da Vila Residencial Antônio Pereira. O atingido completa: “Nessa fase emergencial é possível ter distribuição de repelentes no posto de saúde, já que está comprovada a eficácia contra a dengue?”. O questionamento foi respondido pelo secretário de saúde. Segundo ele, o repelente não é um insumo padrão do SUS. “Por não ser padrão, a gente teria que abrir uma licitação, um processo de três meses, aí já passou a crise da dengue”, afirma Leandro, que também é presidente do Conselho Municipal de Saúde.  

A secretaria de saúde de Ouro Preto se reuniu com a Vale na última terça-feira, dia 20/02,  para mostrar a apresentação e propor ações na tentativa de amenizar o problema da dengue no distrito de Antônio Pereira. “Nós fizemos a conversa com a Vale, a limpeza, ela vê grande possibilidade de executar, mas a empresa pediu para que fizéssemos todas as propostas possíveis para ela analisar o que vai conseguir fazer”, afirma o secretário de saúde.

Entre as propostas, a serem enviadas para a mineradora, listadas pela gerente de vigilância em saúde, durante a reunião, estão: a limpeza de todo o distrito; distribuição de repelente para a comunidade;  a distribuição de flyers educativos; compra de caixas d’água para substituir aquelas danificadas e; compra de “mosquito do bem”. Ana Paula explica que são as fêmeas do Aedes aegypti que picam e transmitem as doenças. “O ‘mosquito do bem’ é geneticamente modificado que ao acasalar com a fêmea, ela só vai botar ovos do sexo masculino por dez gerações, isso é dois meses e meio aproximadamente”, esclarece a gerente de vigilância em saúde.

O uso de repelente é fundamental nesse momento de crise, principalmente para aquelas pessoas que já estão com dengue! Em caso de suspeita de dengue, não tome remédios por conta própria, procure atendimento médico e se hidrate.

Leve a sua reivindicação até a prefeitura

A Secretaria de Saúde do município é responsável por responder às questões de saúde locais. Portanto, deve ser acionada pelos cidadãos e cidadãs em casos de dúvidas, sugestões e elogios relativos aos serviços ofertados na rede de saúde. Além disso, a Secretaria também pode ser acionada em casos de: 1) Denúncia de irregularidade ou negligência na administração ou no atendimento do serviço de saúde; 2) Reclamações sobre os serviços de saúde, como, por exemplo, em casos de demora no atendimento e/ou falta de medicamentos; 3) Solicitação de acesso a atendimento, ações e/ou serviços de saúde como em casos de consultas, tratamentos e cirurgias.

A Secretaria Municipal de Saúde funciona de segunda a quinta, das 7h às 17h e sexta das 7h às 16h, na Rua Mecânico José Português, 240, São Cristóvão, 240, em Ouro Preto/MG. O telefone para falar com a Secretaria é: (31)3559-3280. Se a demanda for sobre a Unidade Básica de Saúde de Antônio Pereira, o telefone para falar no setor de Atenção Primária é: 3559-3305.

Dúvidas, demandas ou reclamações sobre o sistema de saúde local também podem ser encaminhados para a Ouvidoria Municipal. Os telefones são:  3559-3284 ou 98414-4426 (WhatsApp). O e-mail da Ouvidoria é: ouvidoria@ouropreto.mg.gov.br

Disque Saúde (136)

Caso o contato com o órgão local de gestão da Saúde não surta o efeito necessário, é possível exercer também controle social por meio do Disque Saúde (136). Trata-se de um canal da Ouvidoria-Geral do SUS cujo objetivo é melhorar a qualidade dos serviços prestados pelo Sistema Único de Saúde. Após receber o contato do cidadão ou cidadã, a Ouvidoria tem o papel de orientar, encaminhar, acompanhar a demanda e responder sobre as providências tomadas. Além disso,  as demandas são sistematizadas para a elaboração de indicadores que podem dar suporte estratégico às tomadas de decisão no campo da Gestão da Saúde.

O Disque Saúde (136) funciona 24 horas e a ligação é gratuita.

Por Ellen Barros, com apoio de Laura Alice

Gostou do conteúdo? Compartilhe nas redes sociais!

O que você achou deste conteúdo?

O seu endereço de e-mail não será publicado. Todos os campos são obrigatórios.

Ao comentar você concorda com os termos de uso do site.

Assine nossa newsletter

Quer receber os destaques da atuação do Guaicuy em primeira mão? Assine nosso boletim geral!