Instituto Guaicuy

Guaicuy já registrou quase mil pedidos de pessoas atingidas pela Vale por fornecimento de água

13 de junho, 2024, por Mathias Botelho

Muitas pessoas seguem sem receber água da Vale, mesmo morando perto do Rio Paraopeba

O Instituto Guaicuy enviou às Instituições de Justiça (IJs) um levantamento com todos os pedidos de pessoas atingidas das Regiões 4 e 5 por fornecimento de água que chegaram ao conhecimento da Assessoria Técnica Independente (ATI). De 2020 até agora, pelo menos 910 solicitações de água mineral, água potável ou reclamações e dúvidas sobre a qualidade da água chegaram ao conhecimento do Guaicuy.

O Guaicuy registrou 164 pedidos por água para a Vale na Região 4 e 18 na Região 5 até o início de 2023. Também recebeu 148 pedidos de análise de água de poços ou cisternas na Região 4 e 251 pedidos semelhantes na Região 5, no mesmo período. No total, até fevereiro de 2023, o Instituto registrou 410 demandas relacionadas à água na Região 4 e 406 na Região 5 (816 somando as duas Regiões). 

Já de março de 2023 a março de 2024, o Guaicuy listou 33 demandas na Região 4 e 61 na Região 5. Destacam-se os registros de relatos de insegurança quanto à qualidade da água (32 no total) e de sintomas físicos e problemas de saúde atribuídos à qualidade da água (15 no total).

Clique aqui para ler o ofício enviado pelo Guaicuy

 

Contexto

O documento foi enviado em 3 de junho, após solicitação das próprias IJs para que as três ATIs levantassem de maneira detalhada “pleitos e reclamações de pessoas atingidas da Bacia do Paraopeba relacionadas a violações do direito ao acesso à água em seus múltiplos usos, com todas as informações pertinentes, inclusive em relação à localização”. O pedido das IJs aconteceu em meio ao retorno da discussão sobre a necessidade da Vale fornecer água às pessoas atingidas. 

Em 26 de março, o juiz Murilo Silvio de Abreu intimou a mineradora a esclarecer quais comunidades atingidas ainda contam com abastecimento de água, quais comunidades são abastecidas pela COPASA e quais os critérios usados pela empresa para analisar os pedidos de fornecimento de água. A Vale respondeu em 18 de abril, de maneira ampla e genérica. 

Em ofício enviado conjuntamente pelas três Assessorias, foi dito que a ausência do escopo (objetivo) de trabalho relacionado às medidas emergenciais limita as possibilidades de resposta, porque não há metodologia comum de registro desses dados. “Sendo assim, não seria viável a entrega no curto prazo e com a quantidade reduzida de equipe disponível para alinhamentos metodológicos que não são realizados desde a retirada dessas atividades do escopo do Plano de Trabalho do Acordo, atualmente, o único em execução pelas Assessorias”. Por isso, as ATIs entregaram separadamente os dados coletados. 

“Conforme entendimento já compartilhado pelas ATIs, as medidas emergenciais de água, impostas judicialmente à Vale S.A. deveriam abastecer todas as pessoas e comunidades demandantes. No entanto, a empresa poluidora-pagadora, de forma discricionária, aplica critérios por ela estabelecidos, desconsiderando os interesses das populações locais, para restringir o direito ao seu recebimento”, avaliam no ofício Instituto Guaicuy, Aedas e Nacab.

Clique aqui para ler o ofício enviado pelas três ATIs

Os dados enviados pelo Guaicuy

O Instituto dividiu os dados em dois períodos distintos. O primeiro, de julho de 2020 a fevereiro de 2023, é mais completo. Isso porque havia equipes da Assessoria que trabalhavam especificamente com o acolhimento dessas demandas e com o atendimento das pessoas atingidas que apresentam problemas com o fornecimento de água ou insegurança em relação ao consumo da água.

O cenário mudou a partir de março de 2023, quando foi determinado que as ATIs trabalhassem especificamente com os projetos de reparação previstos no Acordo Judicial – que não inclui medidas emergenciais como o fornecimento de água às pessoas atingidas. Ainda assim, o Guaicuy seguiu sistematizando as demandas que surgiram, seja em reuniões entre pessoas atingidas e IJs, seja em reuniões comunitárias ou de Comissões.

Uma observação importante é que os dados a seguir não representam todas as demandas das pessoas atingidas das Regiões 4 e 5 por água, já que muitas pessoas entram em contato direto com a Vale. Os números da ATI apresentam apenas a quantidade de demandas que chegaram ao Guaicuy durante esses anos. 

As demandas apresentadas não levaram em consideração o critério imposto unilateralmente  pela Vale, que determinou que a mineradora apenas forneceria águas às pessoas ou comunidades cujos poços estivessem localizados a menos de 100 metros de distância do Rio Paraopeba. 

Também é importante lembrar que a Vale não considera, para fins de fornecimento de água, as pessoas atingidas da Região 5 (já que o Instituto Mineiro de Gestão das Águas – IGAM não impôs restrições ao uso da água da Represa de Três Marias), o que faz com que haja menos demandas registradas pelo Guaicuy na Região 5 do que na Região 4. 

Pessoas atingidas seguem passando sede, cinco anos após o rompimento

Desde o desastre-crime, mais de 5 anos atrás, as pessoas atingidas lutam para acessar água potável e mineral fornecidas pela Vale. No entanto, a mineradora nega muitos dos pedidos (individuais ou coletivos) usando como argumento critérios como, por exemplo, o que indica que apenas as comunidades cujos poços artesianos estejam a menos de 100 metros de distância do Rio Paraopeba devem receber água regularmente. 

Segundo Dossiê produzido pelo Guaicuy, de 115 ofícios solicitando fornecimento de água na Região 4 (Curvelo e Pompéu) até 2023, a Vale negou 58% por falta de enquadramento nos critérios e em 24% dos casos afirmou, burocraticamente, que não encontrou pessoas para visita técnica ou que não tem os números de protocolo. Mesmo dentro do critério de 100 metros, muitas são as reclamações e relatos de violação do direito de abastecimento e de insuficiência na quantidade da água fornecida. 

Os problemas com a água se repetem em muitas comunidades da Região 4, como Fazendinhas Baú, em Pompéu, que foi retratada no documentário do Guaicuy chamado “Fazendinhas Baú – Comunidade atingida pela Vale luta pelo direito à água”. Os moradores do Baú questionam a medição que a mineradora fez da distância do poço para o rio e afirmam que, nos períodos chuvosos, o poço comunitário fica a menos de 20 metros do leito do Rio Paraopeba. 

 

 

 

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