Instituto Guaicuy

Vale responde ao questionamento do juiz sobre fornecimento de água às pessoas atingidas

19 de abril, 2024, por Mathias Botelho

Cinco anos depois do rompimento, muitas pessoas seguem sem acesso à água de qualidade

A Vale respondeu, na quinta-feira (18), à intimação do juiz Murilo Silvio de Abreu sobre o fornecimento de água às pessoas atingidas pelo rompimento da barragem. A mineradora tinha sido questionada pelo juiz, em 26 de março, sobre quais comunidades atingidas ainda contam com abastecimento de água, quais comunidades são abastecidas pela Copasa e quais os critérios usados pela empresa para analisar os pedidos de fornecimento de água. 

Em sua resposta, a Vale lembrou que fornece água (potável para consumo humano, para dessedentação animal e irrigação agrícola) às pessoas atingidas desde antes de qualquer determinação judicial. Ressaltou que medidas emergenciais, como o fornecimento de água, não estão sujeitas às limitações financeiras determinadas no Acordo Judicial de Reparação, firmado entre a mineradora e o Poder Público em fevereiro de 2021. 

A mineradora afirmou que determinou critérios para definir quais pessoas atingidas teriam direito à água, e que esses critérios foram amplamente divulgados. Segundo a Vale, a água segue sendo entregue nas propriedades que dependiam diretamente da captação da água do Rio Paraopeba, independente da distância. 

E que, no caso de comunidades com captação de água subterrânea, que segue fornecendo água às pessoas que dependem de poços localizados a menos de 100 metros de distância do Paraopeba. A Vale ressaltou que não fornece água nas localidades abastecidas pela Copasa. Lembrou, também, que o atendimento às demandas de fornecimento de água são individualizados. 

Por fim, a mineradora apresentou números do fornecimento. De acordo com a Vale, até o início de abril de 2024, pouco mais de 3 bilhões de litros de água foram entregues ao longo de vinte municípios atingidos. 

Clique aqui para ler a resposta da Vale

Flávia Freire, analista do Escritório de Mitigação do Instituto Guaicuy, avalia que a Vale respondeu apenas parcialmente à intimação do juiz, pois a mineradora não deixou claro quantas pessoas são atendidas por dia pelo fornecimento de água e em quais comunidades elas estão “Os dados são gerais e pouco aprofundados. Seria importante ter dados completos por comunidades para o conhecimento das pessoas atingidas”, comenta. 

No mesmo sentido, Paula Constante, gestora do Escritório de Mitigação do Instituto Guaicuy, avalia que as pessoas atingidas têm enfrentado diariamente problemas para a efetivação do direito à água. “O critério foi estabelecido de forma unilateral pela Vale. As pessoas atingidas continuam na luta pelo direito a ter acesso à água, após o rompimento”, diz. 

Pessoas atingidas seguem passando sede, cinco anos após o rompimento

Desde o desastre-crime, mais de 5 anos atrás, as pessoas atingidas lutam para acessar água potável e mineral fornecidas pela Vale. No entanto, a mineradora nega muitos dos pedidos (individuais ou coletivos) usando como argumento critérios como, por exemplo, o que indica que apenas as comunidades cujos poços artesianos estejam a menos de 100 metros de distância do Rio Paraopeba devem receber água regularmente. 

Segundo Dossiê produzido pelo Guaicuy, de 115 ofícios solicitando fornecimento de água na Região 4 (Curvelo e Pompéu) até 2023, a Vale negou 58% por falta de enquadramento nos critérios e em 24% dos casos afirmou, burocraticamente, que não encontrou pessoas para visita técnica ou que não tem os números de protocolo. Mesmo dentro do critério de 100 metros, muitas são as reclamações e relatos de violação do direito de abastecimento e de insuficiência na quantidade da água fornecida. 

Os problemas com a água se repetem em muitas comunidades da Região 4, como Fazendinhas Baú, em Pompéu, que foi retratada no documentário do Guaicuy chamado “Fazendinhas Baú – Comunidade atingida pela Vale luta pelo direito à água”. Os moradores do Baú questionam a medição que a mineradora fez da distância do poço para o rio e afirmam que, nos períodos chuvosos, o poço comunitário fica a menos de 20 metros do leito do Rio Paraopeba. 

Assista abaixo: 

Imagem de Daniela Paoliello/Guaicuy

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