Instituto Guaicuy

Guaicuy realiza evento em BH dia 24/1 para divulgar dados ambientais e de saúde das pessoas atingidas pela Vale em 10 municípios, de Curvelo a Três Marias

17 de janeiro, 2024, por Laura de Las Casas

Banco de informações construído ao longo dos anos de atuação do Instituto aborda qualidade da água, dos peixes, e a situação de saúde mental de pessoas atingidas pelo rompimento da barragem em Brumadinho

Na próxima quarta-feira, dia 24 de janeiro às 9h, acontece em Belo Horizonte o evento “Em busca de respostas: Divulgação de dados, estudos e produções elaborados com as pessoas atingidas do Baixo Paraopeba, Represa de Três Marias e Rio São Francisco”, promovido pelo Instituto Guaicuy. A ocasião marca os cinco anos do desastre-crime do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, que deixou 272 pessoas mortas e prejudicou vinte e seis municípios ao longo da Bacia do Paraopeba, da Represa de Três Marias e do Rio São Francisco. 

O objetivo do encontro é compartilhar com a sociedade importantes dados ambientais, socioeconômicos e sobre a saúde das pessoas atingidas pela mineradora. O evento contará com a presença de moradores e moradoras das regiões afetadas, especialmente das regiões assessoradas pelo instituto, e também será transmitido ao vivo pelo Youtube. 

Neste dia, haverá o lançamento oficial do banco de dados e estudos ecossistêmicos sobre os impactos do rompimento da barragem da Vale nos municípios de Curvelo e Pompéu, que compõem a Região 4 [as Instituições de Justiça dividiram os municípios atingidos em cinco regiões diferentes para o processo de reparação], além de Abaeté, Biquinhas, Felixlândia, Martinho Campos, Morada Nova de Minas, Paineiras, São Gonçalo do Abaeté e Três Marias, que integram a Região 5. Todos estes territórios contam com o trabalho de Assessoria Técnica Independente (ATI) do Guaicuy desde 2020. 

Na ocasião, também serão lançados o documentário “De Angueretá a Barra do Rio de Janeiro: o rompimento da barragem da Vale para além de Brumadinho” e a revista ilustrada “Cinco anos do desastre-crime da Vale: no curso das águas, a luta por reparação”.

PREENCHA AQUI O FORMULÁRIO PARA CONFIRMAR PRESENÇA NO EVENTO

Serviço

Data: 24 de janeiro de 2024 (quarta-feira)
Horário: 9h às 12h
Local: Auditório da Faculdade de Medicina da UFMG (Av. Prof. Alfredo Balena, 190 – Santa Efigênia, Belo Horizonte)
Transmissão ao vivo pelo canal de YouTube do Guaicuy

 

Estudos e análises como ferramenta de luta 

Um dos eixos de atuação do Instituto nos primeiros anos foi a realização de análises técnicas em áreas como meio ambiente e saúde. Esta atividade foi  crucial para iniciar o processo de levantamento de danos, bem como garantir a participação informada das pessoas no processo de reparação. Além disso, essas informações foram sistematizadas em documentos e levadas ao conhecimento do Ministério Público, da Defensoria Pública e de órgãos do Estado de Minas Gerais, para que as instituições possam ter mais subsídios para representar e defender as pessoas atingidas. “A divulgação deste material marca um importante passo em direção à compreensão abrangente dos danos ocorridos no território que acompanhamos”, afirma Carla Wstane, diretora do Instituto Guaicuy. 

As informações que serão compartilhadas foram obtidas pela contratação de laboratórios acreditados e de consultorias especializadas. Para garantir o cumprimento de todas as normas, as coletas sempre foram acompanhadas pela equipe técnica do Guaicuy. 

Os dados ambientais primários dizem respeito à avaliação dos seguintes pontos: águas do Paraopeba e reservatórios das Usinas Hidrelétricas Retiro Baixo e Três Marias, sedimentos em rios e lagos, ecotoxicidade de água superficial e sedimentos, solos das áreas marginais ao rio. Além disso, foram coletados e analisados os peixes e outras comunidades aquáticas para avaliação de aspectos ecológicos. 

Em relação às pesquisas em saúde, foi feita a análise da situação de saúde das pessoas atingidas, levando em conta perspectivas sociais, econômicas, biológicas, ambientais, ecológicas e de serviços de saúde. 

Todos os dados e estudos serão disponibilizados no site do Instituto a partir do dia 24.

Separamos aqui alguns pontos relevantes que você poderá conferir com detalhes no evento:

1 –A partir de diversas análises, foram constatadas alterações em peixes livres tanto na Região 4, como na Região 5, da mesma forma que foram identificadas alterações nos níveis de metais relacionados aos sedimentos que ultrapassam o barramento de Retiro Baixo. Outro ponto de destaque é que a qualidade da água foi pior no período chuvoso do que durante as secas. A tendência é os sedimentos depositarem-se no fundo da água durante o período seco e serem revolvidos com as chuvas. Todas essas informações já foram disponibilizadas para as autoridades responsáveis pela análise e controle de qualidade da água, bem como para as comunidades locais.

2- Em Curvelo e Pompéu, onde foi realizado o Diagnóstico Familiar e Individual sobre Perda das Pessoas Atingidas (DFIPA), 56% das pessoas entrevistadas declararam alteração nos hábitos alimentares após o rompimento da barragem.

3- Nas Regiões 4 e 5 são inúmeros os relatos de piora em doenças pré-existentes após o rompimento, como intoxicação exógena (causadas por agentes de fora do organismo) em Biquinhas, Felixlândia e Martinho Campos; dengue em Três Marias, Felixlândia, Abaeté e Martinho Campos; leishmaniose tegumentar americana em Curvelo, Felixlândia, Paineiras e Três Marias; leishmaniose visceral em Pompéu, Curvelo, Abaeté e Felixlândia; hanseníase em Pompéu, Curvelo, Felixlândia, Morada Nova de Minas e Três Marias; tuberculose em Curvelo, Felixlândia, Morada Nova de Minas e Três Marias; meningite em Curvelo, Três Marias e Abaeté. A Pesquisa em Saúde aponta para o aumento de doses de medicações e para o  surgimento de complicações geradas pelas alterações no modo de vida provocadas pelo rompimento. 

4 – Na região da Represa de Três Marias, houve aumento de demandas de saúde mental, principalmente nos municípios de Três Marias, Morada Nova de Minas, São Gonçalo de Abaeté e Felixlândia. Os profissionais de saúde destas localidades que foram entrevistados apontam a incidência de ansiedade, depressão, insegurança e medo como consequências do risco potencial da contaminação da água, causando problemas profissionais, financeiros e emocionais. 

5 – Em Curvelo e Pompéu, a Pesquisa em Saúde detectou prejuízo aos laços culturais e à noção de pertencimento pelo afastamento de parentes e amigos que vinham até a região para compartilhar descanso e lazer. Também foi resgistrado o aumento dos casos de violência, especialmente nas residências, violências interpessoal e autoprovocada, e das situações de estigma e discriminação dos produtos comercializados, principalmente com relação aos peixes. Além disso, o não cumprimento das medidas emergenciais por parte da Vale causa problemas como aumento de conflitos conjugais e comunitários, além da discriminação pela luta por direitos no processo de reparação. 

6 – Após o rompimento, a fragilidade econômica das famílias foi agravada. Houve mudanças nas condições de trabalho em, aproximadamente, um quinto dos domicílios. Nessa mesma proporção, foi notada a mudança do tipo de trabalho exercido. Também foi declarada perda de renda em 43,8% dos domicílios entrevistados em Curvelo e Pompéu. De maneira preocupante, houve  redução na participação do trabalho como principal fonte de renda das famílias, que passaram a depender mais das aposentadorias, pensões e outras fontes de renda. Isso pode ser interpretado como um sinal de aumento de risco à pobreza da família e comprometimento da autonomia financeira dos idosos, pois mais pessoas passaram a depender desses benefícios ou auxílios.

 

 

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