Instituto Guaicuy

Integrantes dos Quintais Produtivos de Antônio Pereira participam de intercâmbio agroecológico em Paracatu de Baixo

19 de julho, 2024, por Laura Alice

Quintais Produtivos é um grupo temático idealizado pela equipe do Guaicuy na Assessoria Técnica Independente de Antônio Pereira junto com as pessoas atingidas que praticam agricultura urbana no distrito, atingido pelas obras de descaracterização da Barragem Doutor 

Sob o impacto dos danos causados pelas obras de descaracterização da Barragem Doutor, da Vale, as agricultoras e agricultores urbanos do distrito de Antônio Pereira, em Ouro Preto/MG, buscam formas de fortalecimento e reconhecimento enquanto lutam pela reparação integral. No domingo, 14 de julho, o grupo, que faz parte do projeto Quintais Produtivos, participou de um intercâmbio no sítio do senhor Valdir Polack, produtor de alimentos orgânicos para comercialização na feira da cidade de Mariana. 

Em 2015, Valdir Polack, morador na comunidade de Paracatu de Baixo, zona rural de Mariana, estava entre os atingidos pelo rompimento da Barragem de Fundão, considerado um dos maiores crimes socioambientais do Brasil, provocado pela Vale, BHP e Samarco. Hoje, o senhor Valdir atravessa o processo de reparação convicto de que é preciso priorizar o cultivo de frutas e hortaliças livres de agrotóxicos. “Já fazem 24 anos que planto sem química, isso tem me mantido saudável, mas não faço só por mim, que já tenho 78 anos, faço pelas gerações do futuro, pra ficar de ensinamento”, afirma.

Quintais Produtivos é um grupo temático (GT) organizado pelo Instituto Guaicuy, enquanto Assessoria Técnica Independente (ATI) da população de Antônio Pereira no caso da Barragem Doutor e as pessoas que praticam a agricultura urbana no distrito. Dentre os objetivos do grupo estão a auto-organização das pessoas atingidas que sofreram danos com a perda dos seus quintais produtivos; e incentivar a manutenção deste modo de vida, a fim de impulsionar a economia local e promover uma alimentação saudável, além de ser uma importante iniciativa de combate à fome.

Durante o intercâmbio, Luana Freitas, analista na equipe de mobilização da ATI e uma das idealizadoras do projeto, lembrou que Antônio Pereira ainda não tem uma feira dos produtores locais. “Os produtos frescos consumidos no distrito, muitas vezes, são comprados nos mercados de médio e grande porte, em Mariana. Ninguém sabe de onde eles são, quem produziu e como foram cultivados”, diz. 

Quem também falou sobre os objetivos do grupo foi Camila Bento, coordenadora da equipe de Direitos e Participação Social da ATI Antônio Pereira: “O grupo temático Quintais Produtivos tem sido um grande projeto da ATI Antônio Pereira, que visa resgatar os saberes relacionados ao plantio, saberes esses tão prejudicados por causa da Barragem Doutor. (Antônio Pereira) uma comunidade que a gente tem pessoas com vários danos à produção, uma comunidade que nós temos muitos agricultores familiares, então a oportunidade de vir até uma comunidade atingida por barragem também, que é Paracatu de Baixo, para compreender um pouco de como é possível uma reparação após tantos danos, é uma experiência de intercâmbio fantástica e muito proveitosa.”

Troca de sementes e fortalecimento de laços comunitários também fazem parte do GT Quintais Produtivos de Antônio Pereira

Formado por cerca de 30 moradores de Antônio Pereira, de diversas idades, os integrantes dos Quintais Produtivos se reúnem uma vez por mês. Desde maio, as reuniões do projeto contam com troca de mudas e sementes, compartilhamento de saberes, atividades lúdicas de integração comunitária e oficinas de formação, ligadas ao cultivo de plantas alimentícias, medicinais e místicas e cuidados com a terra. Neste mês de julho, o foco do grupo foi a realização do intercâmbio de saberes e experiências no sítio do senhor Valdir. 

Além de conhecerem as variedades que são cultivadas no sítio e as práticas sustentáveis de manejo, os moradores de Antônio Pereira promoveram a troca de conhecimento ao presentearem o senhor Valdir com sementes, mudas de plantas, produtos artesanais produzidos no distrito e as histórias por trás de cada um deles. Esse é o ponto forte de um projeto popular que tem como base e força as vivências e riquezas de um povo. 

Os encontros das/dos agricultores/as urbanas/os são pensados para que cada pessoa se sinta acolhida e, que além de saber identificar os danos sofridos neste modo de vida, decorrentes das obras de descaracterização da Barragem Doutor, também consigam encontrar e desenvolver as potencialidades econômicas e sociais dentro dos quintais de suas casas e dos vizinhos. 

“Eu estou satisfeita de estar nesse encontro, porque eu aprendi coisas importantes, que eu não sabia. Eu trouxe semente de gravatá. A gente coloca no vidro com mel e açúcar, e ela vira xarope natural pra tosse, pra gripe. Eu trouxe também semente de ervilha.  Já conversei com ele (senhor Valdir), ele vai me dar uma muda de azedinha, que é pra fazer salada, que eu gosto muito e nunca mais vi”, celebra dona Maria Cecília dos Santos, moradora de Antônio Pereira, feliz em poder participar do intercâmbio. 

Izair Venâncio dos Santos, também agricultor urbano do distrito, levou para o intercâmbio sementes de alface que, segundo ele, estão na sua família há cerca de 100 anos. “São espécies que estão desaparecendo do Pereira”, diz o senhor Izair. A relação dele com a terra está no cultivo de hortaliças que ele comercializa na comunidade. “Minha horta fica na Rua da Lapa (em Antônio Pereira). Já planto faz uns oito anos e o que eu mais gosto são das plantações que crescem rápido, como alface, couve e mostarda.”

Durante o intercâmbio em Paracatu de Baixo, a semente de quiabo chamou a atenção do senhor Izair. Foto: Roger Conrado/IG

Como acompanhar as atividades dos Quintais? 

Além do trabalho de mobilização e organização realizado pela equipe de Direitos e Participação da ATI, as atividades dos Quintais Produtivos também são acompanhadas pela equipe de  Comunicação Social da ATI Antônio Pereira. Antes das reuniões, a Comunicação produz convites que são enviados à comunidade através dos grupos de WhatsApp. Antes e durante os encontros, são produzidas matérias para o site do Instituto e postagens para as redes sociais. Confira algumas das coberturas realizadas até agora: 

 

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