Instituto Guaicuy

Tradição de dar água na boca

23 de maio, 2024, por Camila Bastos

Uma prática cheia de história e tradição, armazenar a carne de porco na sua própria gordura foi um costume muito comum no interior de todo o Brasil até o final do século passado. Quando a energia elétrica ainda não tinha chegado em boa parte das casas da roça e as geladeiras eram um luxo para poucos, a Carne de Lata era um jeito — prático e saboroso — de preservar o alimento.

A técnica chegou ao Brasil com os portugueses e se espalhou pelo país com ajuda dos tropeiros e bandeirantes mineiros, fazendo morada na rotina das famílias brasileiras, como a de Luciana Assunção, que cresceu em uma casa na fazenda Cabeceiras, em Pompéu. Hoje, Luciana trabalha como comerciante e tem um bar em Campo Alegre, na mesma região. Por lá, a Carne de Lata é sucesso na certa: “num instantinho vende tudo”, ela conta.

A procura é tanta que o plano de Luciana é usar as linhas de crédito e microcrédito do Anexo 1.1 do Acordo de Reparação (Projetos de Demandas das Comunidades Atingidas) para desenvolver um negócio de venda da Carne de Lata, com a ajuda da irmã. “Eu faço Carne de Lata para vender no bar, mas não é sempre que dá para fazer. Eu acho que, com o microcrédito, eu vou ter uma condição melhor para eu mesma criar os porcos, porque hoje eu compro. Geralmente, com um porco, a gente faz duas latas de 18 litros e vende a porção no bar. A gente quer ter a nossa criação e fazer em potinhos de 1 kg, que já vai arrumadinho, a carne com a gordura. A pessoa chega em casa e é só esquentar”, revela.

Além de comercializar a iguaria no próprio bar, o plano é expandir os negócios a ponto de distribuir o produto em outros estabelecimentos, como os mercados de Pompéu e Belo Horizonte. O Anexo 1.1 (Projetos de Demandas das Comunidades Atingidas) tem recurso previsto de R$3 bilhões, sendo R$1 bilhão para crédito e microcrédito e R$2 bilhões para projetos comunitários.

Carne de lata: Memória de família

Quando Luciana era criança, o pai tinha uma criação de porcos e o tratamento da carne era trabalho da família inteira. Ela, a mãe, a avó e as irmãs se juntavam para limpar, porcionar e cozinhar a carne antes de armazená-la nas latas, submersa na própria gordura. E ela divide os segredos que aprendeu com a mãe: “o tempero é alho, cebola, pimenta, salsinha desidratada e orégano. Bate tudo no liquidificador e deixa a carne curtindo no tempero, enquanto frita o toucinho. Depois, você coloca a carne no fogo certinho. Não pode ser de menos, senão desmancha, e nem demais, porque aí frita por fora e fica crua por dentro. Faz bem devagarzinho. Fica bem coradinha e fica saborosa, viu?”, explica a comerciante de Pompéu.

 

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