Instituto Guaicuy

Vale ainda não retirou nem um terço dos rejeitos do rompimento da barragem do Rio Paraopeba

18 de março, 2024, por Camila Bastos

Presença da lama tóxica nas águas pode intensificar danos ao meio ambiente e à saúde

Quando a barragem da Vale se rompeu no Complexo Minerário do Córrego do Feijão, em Brumadinho, uma das maiores preocupações de ambientalistas e pesquisadores era com os prejuízos a longo prazo que poderiam ocorrer com a saúde daquele ecossistema, e as consequências disso para as pessoas que viviam perto do local e dependiam do rio. Em meio à pressão civil e judicial, a mineradora apresentou o primeiro plano de contenção e retirada dos rejeitos no dia seguinte ao desastre-crime, mas cinco anos depois, não se concluiu nem um terço do trabalho de dragagem.

A informação foi divulgada pela AECOM, empresa responsável pela auditoria do Plano de Recuperação Socioambiental de responsabilidade da Vale. Os dados foram apresentados no final de fevereiro, durante a última reunião de repasse trimestral em que a auditora apresenta às Instituições de Justiça e ao Governo de Minas um balanço das atividades executadas pela mineradora no âmbito deste plano. Segundo os dados apresentados pela própria Vale, o trabalho de dragagem, até agora, limitou-se apenas ao trecho próximo da confluência do Paraopeba com o ribeirão Ferro Carvão.

A estimativa acordada do Plano de Recuperação Socioambiental era de que, até o final do ano, o processo de retirada de rejeitos cobrisse 54 km do Rio Paraopeba. No entanto, até o início de fevereiro de 2024, os trabalhos alcançaram apenas 550 metros. Ou seja, apenas 1% do planejado. De acordo com a AECOM, considerando a extensão do trecho do Rio Paraopeba que foi dragado até hoje e o que ainda falta, seriam necessários mais 10 anos para completar o planejamento. 

Em termos de volume, estima-se que 1,5 milhões de m³ devem ser retirados da calha. Entretanto, atualmente o volume retirado não alcançou nem 500 mil m³, que representaria 33%, ou um terço, do total. A AECOM pontuou, ainda, que a Vale não apresentou para todas as áreas já dragadas os laudos laboratoriais que devem comprovar a completa limpeza do rio, como era previsto no plano.

Fonte: AECOM

O Acordo Judicial de Reparação determina, entre outros pontos, a remoção integral e destinação adequada dos rejeitos até a altura da Represa de Retiro Baixo, na divisa entre os municípios de Curvelo e Pompéu. Pelo curso do rio, o reservatório fica a 320 km de distância do ponto do rompimento. [LEIA AQUI O TEXTO DO ACORDO]

Até agora, a mineradora mapeou apenas cerca de 700 mil m³ de rejeitos nos primeiros 16 km do rio. Cinco anos após o rompimento, ainda não foram sequer mapeados os 304 km restantes até a Represa de Retiro Baixo e não há plano de remoção a partir do quilômetro 16 do rio. No último encontro entre mineradora, auditoria, Instituições de Justiça e Governo de Minas foi acordada a atualização do plano plurianual ainda em março de 2024. 

Alterações nas dinâmicas ambientais

Mais do que representar uma memória constante do desastre-crime que tirou a vida de 272 pessoas e trouxe danos financeiros, sociais, de saúde e emocionais para outras dezenas de milhares, a presença dos rejeitos no Paraopeba pode implicar em novos distúrbios para as dinâmicas ambientais da Bacia. Mônica Campos, pesquisadora do Instituto Guaicuy, explica que a retirada lenta e pouco eficiente dos rejeitos pode potencializar ainda mais os danos socioambientais do rompimento. 

“Existe a possibilidade de que esse material seja progressivamente arrastado em direção à Represa de Três Marias e, com isso, os possíveis efeitos nocivos de várias substâncias potencialmente tóxicas na composição dos rejeitos ocorram ao longo do tempo, acarretando em prejuízos para o meio ambiente e para os organismos vivos”, explica. Mônica lembra ainda que, com a bioacumulação – processo em que certas substâncias se acumulam e aumentam sua concentração ao longo das cadeias alimentares – essas substâncias podem chegar até as pessoas que consumam alimentos derivados dali, como é o caso dos peixes. 

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

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